quinta-feira, 14 de março de 2024

1 em cada 5 eleitores votou no Chega no 50 anos do 25 de Abril

É muito provável que o dinheiro encontrado no gabinete de Vítor Escária tenha contribuído para o descrédito do Partido Socialista e dos seus dirigentes. Ninguém diria que no melhor pano ia cair esta nódoa. António Costa não merecia, mas a verdade é que ninguém tem um chefe de gabinete enviado num pacote sem endereço.  


Um em cada cinco eleitores votou no Chega. Ninguém esperava. É muito provável que o dinheiro encontrado no gabinete de Vítor Escária tenha contribuído para o descrédito do Partido Socialista e dos seus dirigentes. Ninguém diria que no melhor pano ia cair esta nódoa. António Costa não merecia, mas a verdade é que ninguém tem um chefe de gabinete enviado num pacote sem endereço. António Costa tinha obrigação de vigiar quem escolheu para o apoiar nas decisões sobre os destinos do país.

Com as eleições recordam-se números estranhos para quem confia no sistema político que vivemos desde o 25 de Abril. O Chega com esta votação vai receber cerca de quatro milhões de euros por ano de subvenção do Estado, mais 1,4 milhões que lhe calharam dos 8,1 milhões que vão ser distribuídos pelos partidos que concorreram, no mínimo, a 51% dos lugares sujeitos a sufrágio para a Assembleia da República. O sucesso do Chega trouxe a lume ainda o facto de um em cada nove votos não ter servido para nada, ou seja, em alguns distritos somaram-se mais de seiscentos mil votos que não serviram para eleger deputados devido ao facto do país estar dividido em círculos eleitorais em que uns valem mais que outros. Dando como exemplo as eleições de 2015 no distrito de Portalegre, mais de 20% dos votos em vários partidos não elegeram qualquer deputado (apenas o PS e o PSD elegeram). Já em Lisboa, só cerca de 7% dos votos é que não resultaram na eleição de um deputado para um partido. Todos os votos são iguais e têm o mesmo valor, mas, tal como na ficção de George Orwell em "O Triunfo dos Porcos", todos os eleitores são iguais, mas uns são mais iguais que outros.

Assim como no Brasil os taxistas perguntam uns aos outros como é que é possível que a grande maioria vote Bolsonaro, em Lisboa acontece exactamente a mesma coisa: é muito raro entrar num táxi onde o condutor não seja apoiante do Chega. Nos livros O Mundo de Ontem e O Mundo que eu Vi, Stefan Zweig conta episódios da sua vida em que se lembra de ver Hitler a discursar para meia centena de pessoas e outras tantas a verem e a desvalorizarem o seu discurso e a sua importância política. Muitos anos depois Stefan Zweig estava a fugir da Áustria para França tentando escapar à primeira guerra mundial, depois de França para os EUA e depois para o Brasil escapando da segunda guerra mundial. A sua Obra é talvez o maior testemunho dos intelectuais do seu tempo, já que entre o seu círculo de amizades incluíam-se Rimbaud, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann, Émile Verhaeren e Sigmund Freud, com o qual se correspondeu entre 1908 e 1939. A família de Stefan tinha uma biblioteca onde havia livros com os cabelos de Mozart. O célebre compositor tem um diário digitalizado na Internet escrito entre Fevereiro de 1784 e Dezembro de 1791, que foi retirado de um manuscrito que se chama Verzeichnüss aller meiner Werke (Catálogo de todos os meus trabalhos) doado à Biblioteca Britânica pela família do escritor austríaco em 1986. Nada desta importância impediu que Stefan Zweig se considerasse o único homem no mundo que teve que construir três casas de família em partes diferentes do mundo e que resolvesse suicidar-se por já não acreditar no futuro da Europa.

Misturei aqui resultados eleitorais com leituras e saberes enciclopédicos mas foi com intenção. Não me interessa desvalorizar o trabalho de André Ventura porque ele merece este resultado eleitoral tendo em conta o demérito dos seus adversários. Todos lhe fizeram a caminha como se diz na gíria. A começar em António Costa e Vítor Escária e a acabar em José Sócrates que vive um pesadelo na vida real como alguns actores vivem diariamente em palco do génio criativo de alguns escritores que escrevem ficção para ser encenada.

A minha esperança é que ainda viva o tempo suficiente para ver um primeiro-ministro português a governar a partir do Porto, uma dúzia de ministros em carro próprio a visitar as obras pelo país, a demitirem-se assim que um pássaro lhes cague em cima da cabeça e quem sabe, uma administração central onde já não habitem os velhos lobos que estão ao serviço dos DDT com o beneplácito dos socialistas, social-democratas e outras aves raras. Pode ser pedir muito, mas nestes tempos de pobreza de espírito aposto em não baixar as minhas expectativas. JAE.

quinta-feira, 7 de março de 2024

A região do Ribatejo e a sorte grande chamada José Saramago

Metade do mundo sabe que muito do vinho alentejano engarrafado é feito de uvas de vinhas ribatejanas. O Ribatejo acabou como marca e o Alentejo é cada vez mais uma marca internacionalizada e famosa. Oportunidade para voltarmos a José Saramago e à sorte grande de termos um escritor que é mais comemorado em Lanzarote, Mafra e Lisboa que na terra onde nasceu.


Quem ler as Pequenas Memórias de José Saramago fica a saber que a história de vida do autor de Memorial do Convento passa também pela Chamusca quando ele atravessava o rio e ia ao encontro de um familiar que guardava gado nos campos da Chamusca. O que me leva a falar do assunto é o facto de receber durante o ano vários convites para acompanhar visitas a vários caminhos de Saramago, de Lisboa a Lanzarote, de Mafra ao grande Alentejo. Foi neste último território, hoje cada vez mais desertificado, que Saramago se escondeu do mundo para escrever Levantado do Chão que o catapultou para o êxito e a conquista de milhões de leitores. O génio do escritor da Azinhaga levantou voo e poucos anos depois surgiram as obras que deixaram de ser só novidade no trato da escrita e da composição dos textos, para serem também literatura de génio, prosa de um grande espírito criador.

Falo do assunto porque a Chamusca e a Golegã podiam juntar-se para organizarem os caminhos de Saramago na terra onde o escritor nasceu e conheceu o mundo. Do lado da Chamusca governa um político, Paulo Queimado, que é uma ave rara que provavelmente nunca leu um livro depois de ter acabado a escola; do outro lado está um novo presidente, António Camilo, ainda a apalpar terreno e pelo que sei a estudar o assunto, mas sem coragem de dar o passo em frente.

 A região do Ribatejo está quase a deixar de ter campinos, toiros e qualquer dia só tem a memória das tradições. Aliás, a região do Ribatejo já nem se chama Ribatejo para alguns produtos, como, por exemplo, os vinhos que passaram a denominar-se como marca "Vinhos do Tejo", considerado pelos seus autores “uma evolução”, porque “os vinhos ribatejanos tinham fama de baixa qualidade”. Enfim, quando se tem tudo, como uma marca famosa chamada Ribatejo, os vinhos escolhem a marca Tejo e mandam o Ribatejo às urtigas porque os vinhos de antigamente tinham má fama (embora metade do mundo saiba que metade dos vinhos engarrafados alentejanos são desde há séculos feitos com uvas compradas no Ribatejo, onde sempre houve mais fartura e variedade. E eles mantiveram a marca porque os alentejanos são tudo menos parvos). Para ser verdadeiro acho que o autor desta ideia tem os fusíveis queimados e quem foi na cantiga para lá caminha.

A Chamusca é cada vez mais uma terrinha que vive das festas da Ascensão e dos cantores pimbas e do romance, sem ficção, entre dois políticos que devem dormir mais do que governam. O resto é charneca, terra do campo e casas em ruínas. A Golegã sempre tem o museu do grande Martins Correia, mal divulgado, diga-se de passagem, a Casa Estúdio Carlos Relvas, um centro cívico ganho à custa de uma feira secular, e é sobretudo morada do grande José Saramago, que tem um Nobel na Obra que vai ficar para sempre.


Como estamos em tempo de eleições lembrei-me de desafiar os leitores a procurarem nos tempos de antena dos partidos políticos o testemunho de figuras públicas ligadas à cultura, à economia e à sociedade civil. Já agora tentem ver se aparece algum militar de Abril a fazer campanha eleitoral em nome dos partidos do arco do poder. Népia. Agora o Álvaro Cunhal é um tipo que parece que saiu ontem do colégio; Mário Soares é um rapaz barbudo que diz como José Sócrates que as dívidas do Estado não são para pagar; o PSD tem um advogado como líder a quem António Costa pregou a partida de obrigar a disputar eleições em tempo recorde, sem lhe dar tempo de arrumar a casa laranja, o que lhe pode custar muito caro. JAE .

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Conheço melhor Paris que Massamá

Uma crónica para partilhar que conheci Jorge O Mourão numa esquina de um bairro famoso, que aprendi a podar figueiras, que tenho a biblioteca mais desarrumada do que as ideias e que cada vez falho mais os meus compromissos de agenda incluindo a ida ao médico.


Na acção de formação de poda de figueiras que se realizou recentemente em Torres Novas (ver edição de O MIRANTE da passada semana) o almoço do engenheiro formador Rui Maia de Sousa foi passado a trabalhar. Como o dia era curto, e a prática no terreno não dava para conversas prolongadas, o almoço serviu às mil maravilhas para os formandos roubarem teoria ao mestre.

O que ninguém esperava era que a meio da tarde, numa demonstração junto de uma figueira, o mestre Rui Maia de Sousa respondesse a uma dúvida de uma formanda nos seguintes termos: “olhe, dez anos a aprender a podar podem ser poucos e ao fim desse tempo a sua conclusão pode ser a de que tem que voltar a aprender tudo de novo durante mais dez anos”. A frase pode não estar como foi dita mas está lá perto certamente.

Em tempo de campanha eleitoral dá para perceber que o engenheiro Rui Maia de Sousa não é candidato a nenhum cargo. Se fosse estava tramado. Quem reconhece que está sempre tudo por fazer, e só sabemos que nada sabemos, não pode ser político. Mas merece certamente a admiração que o pessoal de Torres Novas tem por ele, pelos seus conhecimentos e pela dedicação à causa do figueiral que dantes era uma indústria e hoje é uma das culturas que exige mais investimento e dedicação, assim como dimensão para poder ser rentável.


Esta semana falhei mais uma vez a inauguração da Cartoon Xira, voltei a atrasar a leitura dos jornais, tanto em papel como digitais, ainda não curei as minhas árvores nem acabei a poda, não consegui encontrar nas estantes da minha biblioteca um livrinho autografado do Professor Joaquim Veríssimo Serrão, que preciso para um trabalho urgente, não marquei duas consultas que ando a adiar desde o início do ano quando deixei de ter médico de família e descobri que conheço melhor a cidade de Paris que Massamá, uma localidade da Área Metropolitana de Lisboa, concelho de Sintra, que fica entre Queluz e Cacém. Foi lá que encontrei um café cheio de gente, onde prolonguei a tarde, depois de uma massagem terapêutica, a beber café e a comer um doce regional, com a curiosidade aguçada pelo ambiente que me conquistou. Num outro café, que é ao mesmo tempo cervejaria e casa de petiscos, encontrei a decorar uma parede o cachecol do Real (de Massamá) que o dono do estabelecimento diz que é o único emblema da casa juntamente com o da selecção nacional.

É claro que deixei muito mais agenda por cumprir, já que quanto mais trabalho mais trabalho deixo por fazer. Mas essa é a sina de quem vai descobrindo ao longo dos anos que “o caminho faz-se andando”, que “a verdadeira viagem é a do regresso” e que “o único caminho na vida é aquele que já caminhamos”.

Escrevo directamente no computador que cheira a IA, mas tenho ao meu lado um livrinho antigo a cheirar a mofo, de Rainer Maria Rilke, que escreve sobre Rodin, que trouxe de oferta da biblioteca de um amigo que visitei recentemente. Estou de tal modo vidrado com a sua leitura que bloqueei e perdi a vontade de acabar o artigo que comecei a escrever, para desespero de um novo amigo que conheci na viagem, que se chama Jorge O Mourão, um cineasta que já faz parte da história do cinema brasileiro, que passou uma tarde comigo e com mais dois amigos numa esplanada de rua do Bairro da Glória, no Rio de Janeiro, enquanto centenas de corpos quase nus, outros nem tanto, desfilavam à nossa volta brincando ao Carnaval. JAE.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Personalidades do Ano: o jornalismo de proximidade que é a marca de O MIRANTE

O MIRANTE é um jornal que edita livros quase desde a sua fundação; levamos o nome da região aos quatro cantos do mundo, somos a melhor redacção descentralizada dos jornais e das televisões de Lisboa e do Porto, que têm no nosso trabalho referências para valorizarem o seu, e disso também nos orgulhamos, por que ao trabalho de jornalista pode aplicar-se, sem vaidade, o provérbio que ensina que "a mão que dá está sempre acima da mão que recebe".


Na próxima semana realiza-se em Santarém a 19ª edição da cerimónia das Personalidades do Ano organizada por O MIRANTE. A minha memória é fraca para algumas coisas, mas para outras é forte e não desarma. Quando tenho o azar de esquecer, e de gastar as reservas da memória RAM, tenho a Joana, e agora também o Bernardo, que para minha sorte aceitaram o desafio de trabalharem comigo.

Diz a Joana que assim que se sentou à secretária, ainda no Beco dos Agulheiros, eu lhe disse: “agora que chegaste vamos começar a organizar as Personalidades do Ano para concorrermos com o Galardão Empresa do Ano cuja iniciativa tínhamos proposto três anos antes ao presidente da Nersant e que foi aceite de imediato.

Não sou capaz de diferenciar o meu interesse e entusiasmo tanto na organização do Galardão Empresa do Ano como na organização das Personalidades do Ano. É quase como perguntar a um pai que tem vários filhos de qual é que gosta mais. Hoje, nesta data, a poucos dias de editarmos um suplemento com treze entrevistas às treze personalidades do ano, é difícil não tomar partido sabendo que vamos mexer com a comunidade, que os nossos premiados não se ficaram pela satisfação de saberem que vão ser reconhecidos publicamente, como aceitaram falar e assumir em entrevista aquilo que os fez merecer a escolha dos jornalistas da redacção de O MIRANTE. Uns mais do que outros, por razões também díspares, já que os distinguidos têm diferentes papéis na sua intervenção na comunidade e na sociedade em geral.

Há uma situação que quero partilhar com os leitores desta página que acho pertinente e que merece ficar registado. Não há ano nenhum que não digamos, depois de cada cerimónia, tentando apanhar o que resta dos cacos que partimos ao longo do nosso trabalho de premiar, elogiar e criticar, que não digamos, repito, "este foi o melhor ano de todos, e a melhor cerimónia", e as razões são quase sempre as mesmas: a presença dos nossos ilustres convidados que enchem as salas onde nos juntamos e a excelência dos nossos premiados que nunca se fazem rogados a receberem a distinção nem deixam por mãos alheias o mérito que têm e que lhes reconhecemos.

No dia 29 de Fevereiro a cerimónia das Personalidades do Ano inaugura uma nova etapa anunciada em Novembro na cerimónia da entrega dos prémios Galardão Empresa do Ano.

A Joana vai assumir o seu papel de líder, como é justo e já vem acontecendo há muito tempo noutras situações, e o Bernardo, que neste momento é coordenador editorial, vai assumir a apresentação e direcção da cerimónia em cima do palco onde vamos reconhecer uma a uma todas as personalidades do ano de 2023.

O MIRANTE é um jornal que edita livros quase desde a sua fundação, premeia empresários e personalidades da vida pública ligadas às mais diferentes áreas da nossa sociedade, somos escolhidos por algumas entidades para entregarmos donativos às pessoas que são notícia no nosso jornal e disso nos orgulhamos; levamos o nome da região aos quatro cantos do mundo, somos a melhor redacção descentralizada dos jornais e das televisões de Lisboa e do Porto, que têm no nosso trabalho referências para valorizarem o seu, e disso também nos orgulhamos, por que ao trabalho de jornalista pode aplicar-se, sem vaidade, o provérbio que ensina que "a mão que dá está sempre acima da mão que recebe".

O jornalismo regional tem um lugar na democracia portuguesa que O MIRANTE representa há 36 anos sempre em crescendo, com muita luta e uma firmeza inabalável. O lema desta iniciativa é igual desde o primeiro dia: "Qualquer momento é bom para dizer isto é justo". JAE.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A campanha eleitoral e os novos actores do circo

É triste ver e perceber como os políticos são os novos actores do circo, os palhaços de serviço, os animais amestrados que em vez de actuarem num palco dão espectáculo sentados à volta de uma mesa usando a arte de falarem todos ao mesmo tempo de assuntos que só interessam aos empresários do circo.


Em plena campanha eleitoral devo confessar que tenho evitado ao máximo ligar a televisão para acompanhar os debates. Como é sabido vivemos uma democracia amputada. Quanto mais a democracia portuguesa, nascida no dia 25 de Abril de 1974, vai ficando velha, mais problemas vai criando aos novos democratas. Recordo palavras e sentimentos do presidente da Câmara de Mação, que andou dois anos a caminho do tribunal por causa de uma publicação na sua página pessoal; e de uma condenação recente do ex-presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Miguel Ribeiro, por ter permitido uma publicação em tempo de campanha eleitoral no site da câmara municipal de uma iniciativa que deveria ser entendida como trabalho de divulgação. Os partidos políticos podem endividar-se a divulgarem o que quiserem em cartazes espalhados por tudo o que é avenida, rotunda, praça, beco, árvores e postes de electricidade; não há limites para a distribuição de publicidade no espaço público, assim como não há limites para o tamanho dos cartazes. Chega a ser pornográfico ver cartazes em cima de cartazes, em lugares onde o diabo não chegaria, e o olhar humano só vê e consegue ler uma pequena parte. Apesar de toda esta prática política, que na maioria dos casos é abusiva e contrária a tudo aquilo que são as boas práticas ambientais, continua a ser proibido aos partidos políticos usarem a comunicação social para publicitarem as suas ideias e propostas eleitorais. Há uma excepção para o anúncio de comícios ou iniciativas partidárias, mas não podem exceder determinados tamanhos e menos ainda fazerem apelo ao voto.

Escrito e contado ninguém acredita. Os políticos criam condições para que a publicidade tenha regras na comunicação social, regras bem definidas que não permitem qualquer tentativa de esclarecimento sobre situações que interessam às populações, nomeadamente nas áreas sociais, culturais e económicas; mas permitem o livre arbítrio a toda e qualquer publicidade de rua, mesmo que seja numa situação de crime ambiental, ponha em perigo o trânsito e seja um atentado aos bons costumes. 

Este ano comemoram-se os 50 anos do 25 de Abril. Meio século não foi suficiente para amadurecermos como povo e como país. Estamos a subir na classificação dos países da Europa onde não se investe no combate à corrupção. Na rua, em protesto, estão os funcionários dos tribunais, os médicos e enfermeiros, professores, polícias, inspectores de organismos do Estado como a ASAE, agricultores e etc; há um descontentamento generalizado sobre a actuação dos políticos e, em alguns casos, parece de propósito para gerar descontentamento. 

Como é fácil de constatar os partidos que tradicionalmente ocupam os cargos de poder começam a ficar pelo caminho por falta de renovação dos seus quadros porque se deixam minar por gente menos apta e alguns homens de negócios que são os Donos Disto Tudo.

Os debates nas televisões são a cara da nossa democracia: todos contra todos e ninguém mete o dedo na ferida porque a campanha eleitoral é para exercitar argumentos falasiosos e vender sorrisos e frases feitas em tempo recorde. Os políticos que aceitam participar neste tipo de debates estão reféns de um sistema que eles próprios criaram e alimentam. É triste ver e perceber como os políticos são os novos actores do circo, os palhaços de serviço, os animais amestrados que em vez de actuarem num palco dão espectáculo sentados à volta de uma mesa usando a arte de falarem todos ao mesmo tempo de assuntos que só interessam aos empresários do circo. JAE.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

André Seffrin: o escritor, crítico e editor que ainda organiza tertúlias na sua casa



André Seffrin é crítico literário e de artes plásticas, editor, ensaísta, faz de tudo e mais umas botas se lhe pedirem para organizar um livro ou valorizar um autor; e deve ser o único homem ligado às artes que ainda se dá ao trabalho de convidar os seus amigos para tertúlias na sua casa.

Há cerca de três dezenas de anos levaram-me no início da noite, a medo, porque eu era novo nestas andanças e podia sair-me mal, para o bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, para casa de um escritor, crítico literário e editor que habitualmente promovia tertúlias convidando gente do mesmo ofício.

Chama-se André Seffrin e ainda hoje é meu amigo e eu sou visita de sua casa como aconteceu recentemente.
Esta última estadia no Rio de Janeiro, o último dia de tertúlia com o André e a sua família, deram-se balanço para escrever este texto e provavelmente surpreender os meus leitores. Sou assumidamente um suicida tanto no convívio familiar como no trabalho e nos meus encargos com as coisas do corpo e do espírito. Nunca faço nada pela metade e se o faço é por razões da minha falta de inteligência ou força física. O eu que sou nunca me dá descanso nem a dormir. Sonho todas as noites e é raro que não goste dos meus sonhos. No meu dia a dia estou sempre a inventar mesmo depois de já ter passado os 68 anos e o meu coração ter reclamado dentro do peito. Sou incapaz de viajar para Cabo Verde, Brasil, França, Espanha, Chile ou Argentina, talvez os países que mais gosto, sem levar comigo o trabalho, os textos literários inacabados, uma pilha de livros, uma agenda de pequenos biscates que sei que posso resolver entre o café da manhã e o descanso num banco de jardim, a meio de um mergulho no mar, depois de uma sesta, enquanto dou uma mordidela numa nuvem ou engulo um bando de aves raras que me levam o que resta do cabelo que ainda tenho na cabeça.

Conversar a ouvir fado e MPB

O André Seffrin é jornalista cultural tal como eu também gostava de ser. Mas somos tão diferentes um do outro que nos entendemos às mil maravilhas. Dantes durante uma noite de convívio, só à minha parte despejava dois litros de vinho entre as 7 da tarde e as 6 da madrugada; quando era cerveja nunca soube bem quantos litros bebia. Agora estou mais moderado e bebo mais água que vinho ou cerveja. Ele não. Continua em forma. A beber e a escrever. André Seffrin é daqueles escribas que gosta do que faz. Detesta assinar os seus textos e com 58 anos de vida discursou poucas vezes e já não aceita subir a uma tribuna para botar faladura. O que ele mais gosta é de trabalhar para editores que não querem textos assinados para as contracapas dos livros, as badanas ou para outra qualquer valorização do livro feito por quem vive e trabalha de ler e julgar o que os outros escrevem.
Nesta última vez que tertuliamos tivemos tempo de ver na televisão a gravação completa do Festival da Cancão Brasileira de 1966. Antes disso ouvimos a Marisa e a Amália a cantar o fado. Nunca na minha vida, na minha casa, liguei a televisão para ouvir fados ou fadistas, e muito menos espetáculos tão antigos, do tempo da Maria Cachucha. Quando saí da casa do André Seffrin e desci a rua Mário Portela, eram cerca de três da matina, disse para mim mesmo: preciso disto mais vezes para não morrer dentro de um carro de Fórmula1 sem saber se sou piloto ou copiloto suicida. Mesmo enquanto os artistas brasileiros famosos da época cantavam as canções que ainda hoje marcam a MPB brasileira, não deixamos de falar do Lêdo Ivo, do António Torres, da poesia do Alexei Bueno, dos diários inéditos do Walmir Ayala, da pintura do Gonçalo Ivo, da equipa do Fluminense, jogo que também vimos na íntegra, que nessa noite jogava em Saquarema, onde tínhamos passado uns dias antes, ele na sua casa de férias e eu numa Pousada onde fui reviver outros tempos. Falamos ainda da antologia de poesia erótica que haveremos de reunir a quatro mãos, das Obras de Octávio de Faria e do Baú de Ossos de Pedro Nava, que o André disse para não comprar que ia trazer um exemplar de Saquarema. 

Os livros como uma obrigação

André Seffrin não é maldizente como eu; não é tão cruel como eu a julgar pessoas, mas que ninguém o julgue só pelo que parece. Tem um humor fino e mortífero, ao contrário do meu, que só tem bala para atordoar.
Alguns dos melhores livros que ele leu, eu também já li depois de nos conhecermos. Nisso continuo igual ao que era aos 20 anos. Lia quase tudo o que eram sugestões de leitura do Manuel Alegre, do Baptista Bastos, do David Mourão Ferreira, Jorge de Sena, Piteira Santos, entre tantos outros que correspondiam aos pedidos dos jornais em tempos de feiras do livro ou de listagens de fim de ano. Embora esteja velho e cansado, não perco a mania de procurar os livros que, antes de morrer, tenho obrigação de ler. Diz-se que o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, o autor de Fausto, chamou um padre minutos antes de morrer para se confessar. “Padre, confesso que vou morrer sem ter lido a Divina Comédia. É pecado”, perguntou. Só quem vive entre livros, viagens e fantasias percebe que há livros que até na hora da morte devem ser boa companhia. Nem que seja para os renegar. E tal como dizia Sócrates, horas antes de morrer questionado pelos seus discípulos sobre a razão porque não tirava os olhos de um livro, se a morte estava por breves horas, “devemos aprender até morrer”.

Escrever por favor e de borla

Nesta última tertúlia o André confessou que quando chegou ao Rio de Janeiro vindo do sul, assistiu a muitas conversas do Walmir Ayala com músicos, escritores e artísticas plásticos da época, mas só guarda de memória o ambiente, nunca pensou em tirar apontamentos, sequer imaginava que a sua vida ir ser ler e escrever até morrer.
Quando conto as vezes que estivemos juntos, e os episódios que já vivemos, e as histórias que nunca irei contar desses encontros, porque me falta já o pormenor, fico danado e ainda mais suicida do que acho que merecia. A matéria de trabalho de um jornalista é a memória; quando a memória se vai são os apontamentos a que podemos recorrer que nos salvam a vida, ou seja, que nos dão material de trabalho para adiarmos a morte cerebral, doença que persegue qualquer pessoa que vive da arte da escrita, da música ou de qualquer outra actividade intelectual.

Muitos dos amigos e amigas de há cerca de 30 anos que se juntavam a nós em tertúlia, já morreram e desses ainda reza a história, embora não sejam para aqui chamados. O André tem mais opinião literária dos amigos e conhecidos do que sobre eles próprios. Por isso quando fala dos grandes nomes da literatura brasileira que conheceu, e sobre quem escreveu, é como se falasse de família, de gente com quem bebeu um copo e trocou umas ideias sobre o assunto.
Embora tenha trabalhado para dezenas de editoras, poucas vezes o fez como funcionário. André Seffrin é dos poucos escritores do mundo que aceita viver no fio da navalha para fazer só o que gosta. Por isso admite que raramente escreve por favor e muito menos de borla. A escrita é o seu trabalho, e escrever exige tempo de estudo e, mais ainda, de habilidade intelectual que para pôr em prática é preciso fazer muitos abdominais e saltos mortais. 
Quem quer prefácios do André Seffrin não fica a chuchar no dedo mas tem que merecê-lo. 


O Demónio da Inquietude

É minha convicção que os escritores vivem da abundância da sua memória, por isso leem muito, colecionam grandes bibliotecas, são regra geral ratos de sebos, interessam-se desalmadamente por jornais e revistas, notícias sobre tudo o que mexe no mundo das artes, da política e de sociedade, raramente sobre economia.
Recentemente perguntei ao autor de “O Demónio da Inquietude“, quem, depois de Carlos Drummond de Andrade, a quem chamou o Camões do nosso tempo, podíamos nomear seu herdeiro no Brasil. A pergunta complementava um desabado recente sobre a poesia que se publica actualmente. Não vejo ninguém, desabafou o mais arguto dos críticos brasileiros, mas também o menos cruel, eventualmente o mais afetivo dos escrutinadores da literatura brasileira dos últimos anos.
André Seffrin conviveu desde muito cedo com Walmir Ayala. Quando chegou ao Rio de Janeiro com 21 anos, e começou a conviver com Ayala e os seus amigos e conhecidos, tudo gente ligada às artes e às letras, André Seffrin fez-se crítico literário encantado pelas possibilidades de ser visitado pelas musas, ao contrário dos seus interlocutores que não faziam mais nada que andar no seu encalço, muitas vezes com a ajuda da bebida, do fumo e de algumas loucuras inomináveis.

A minha memória está povoada de artistas que nunca precisaram de procurar trabalho: encadernadores, correeiros, alfaiates, marceneiros, jardineiros, torneiros, canalizadores, entre muitas outras profissões. O trabalho chegava porque eles eram únicos, já tinham sido aprendizes, herdaram a profissão dos seus mestres, mas também as oficinas e os clientes dedicados. André Seffrin lembra-me os mestres da arte e da vida que tenho como referências. Nunca o ouvi fazer queixinhas do trabalho ou de alguma desfeita, jamais o ouvi clamar por justiça como fazem as vedetas e como se houvesse justiça para quem trabalha por sua conta. Fizeram dele guardião de uma grande biblioteca e de um grande autor, e ele não enjeita esforços para continuar a valorizar quem nele confiou.

O desejo de ser dono de editora

O que guardo dos seus segredos de escritor e editor profissional são episódios de falta de tesouraria, e o recurso à venda de revistas e jornais antigos que lhe serviram de material de trabalho por valores que deram para sobreviver durante dois anos. Mas também ouvi contar que gastou num só livro, que queria ter na biblioteca, o valor de um cordão de ouro.

No ano em que se comemoram os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, comemorações que estão longe de terem a dignidade que merecem, por culpa dos políticos analfabetos, Isabel Rio Novo vai publicar uma biografia do poeta que lhe consumiu seis anos de trabalho. Ao contrário dos políticos, os editores ainda arriscam. E os biógrafos fazem jus à sua profissão, trabalhando por pouco mas semeando em terra boa, esperando pela hora da colheita. André Seffrin trabalha como um poeta mas recebe como um biógrafo; esforça-se como um romancista mas é pago como revisor de texto. O seu sonho era fundar uma editora, e não trabalhar só para os editores, mas para isso precisava de duas vidas, pois é como escritor que sabe ganhar o pão para a boca. E um crítico também precisa de dormir e descansar e não tem que ser nem pode ser homem de negócios a tempo inteiro, que é o que são os editores que arriscam pedir uma biografia sobre um poeta, que morreu há 500 anos, e que terá sido enterrado em vala comum, embrulhado num lençol, numa data que nunca se irá saber ao certo.

O escritor que a vaidade não perturba

André Seffrin guarda livros como um médico guarda amostras de medicamentos. O último livro que me ofereceu andava na minha lista de compras há mais de 10 anos e foi-me sugerido por uma amiga do Porto que tem um fraquinho por Rodin e Rainer Maria Rilke. O segundo foi secretário do primeiro e escreveu uma pequena biografia que é uma preciosidade. André Seffrin, tal como Rodin, amadureceu enclausurado na sua oficina, escondendo-se do público que o lia, dos artistas que precisavam dele, dos editores com quem tratava só de forma profissional, falando pouco e poucas vezes.
A segurança da sua escrita foi conquistada em silêncio, sem deslumbramentos, sem se deixar perturbar pelos elogios, sabendo de outras vidas que a grande segurança de um escritor é a sua independência.
André Seffrin é um daqueles escritores em que todos podem bater, o que não é o caso, mas que nenhum elogio o desconcerta ou perturba. 
O crítico de mão implacável, sem ser carrasco, já escreveu sobre centenas de escritores, artistas plásticos e ensaístas. Só recentemente reuniu em livro alguns, poucos, desses textos que ajudaram alguns autores a deixarem de duvidar de si mesmos e dos seus recursos literários.
JAE

Nota de interesses; “O Demónio da Inquietude” é uma edição portuguesa da editora Rosmaninho, uma chancela de O MIRANTE, que está em todas as livrarias portuguesas. O livro tem uma folha de rosto com a seguinte epígrafe que abre a secção de Poetas Brasileiros: “…essa estranha terra natal chamada língua portuguesa. Augusto Meyer, A forma secreta / “Epístola a Porfírio”.
Embora tenha sido eu o editor, o livro vai-se lendo e relendo aos trancos e barrancos, e de vez em quando falha a memória sobre um autor que faz parte do livro, sobre um texto que volta a ser tema de conversa. Só a epígrafe fica, porque no Brasil há sangue português até nas raízes das árvores.
Graças ao André, ou por causa da amizade com o André, editei no Brasil, também com a Rosmaninho "Rio, da Glória à Piedade", um livro de crónicas e memórias de homenagem ao Rio de Janeiro, escrito por um colectivo de autores em que também estou incluído. Recentemente André Seffrin organizou para a Editora Nova Fronteira uma reedição de uma Antologia de Poemas de Amor, trabalho iniciado há muitos anos por Walmir Ayala, e fez o favor de me incluir, embora eu não o merecesse. 
 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Renova pode ser alvo de uma acção internacional de repúdio

A Renova é uma marca internacional de prestígio que tem um caso sério com o concelho de Torres Novas e com as instituições da região. Um movimento internacional de repúdio pela apropriação da nascente do Almonda pode ser um caso sério para a marca que faz publicidade no Museu do Louvre, em Paris, mas não oferece um rolo de papel higiénico para uma quermesse de uma festa local.


O MIRANTE distingue-se na região por organizar o Galardão Empresa do Ano e publicar todas os dias e todas as semanas, em plataformas diferentes, notícias e matéria editorial diversificada com e sobre empresas e empresários. Quase sempre a favor uma vez que as empresas, regra geral, são fonte de boas notícias. Há excepções. A Renova é uma delas. O que a sua administração está a fazer na nascente do rio Almonda não vai acabar bem para a empresa. Ninguém com juízo, mesmo que tenha muito dinheiro e seja muito influente, pode proibir a população de uma região de ter acesso à nascente de um rio. Ainda por cima um rio que é o ex-líbris da cidade de Torres Novas.

Infelizmente a Renova tem um historial na região que não abona nada a favor dos seus administradores. Ouvi um dia a um deles que o melhor da nossa região é a auto-estrada para Lisboa. Sei que já nessa altura morava em Cascais, mas que tinha, e ainda terá, um quarto na fábrica, para não fazer o caminho de ida e volta nas alturas em que o trabalho aperta. Conto o episódio, não para lhe chamar forreta e pobretana, por não usar os hotéis da cidade, mas para acentuar o espírito de quem faz a gestão de uma marca que paga milhares em publicidade para ter uma montra no Museu do Louvre, mas depois poupa na dormida. Pode escrever-se que a Renova é património da região e um sucesso empresarial, mas não se nota ao nível da interacção com as instituições locais e regionais. Não conheço associação ou colectividade que seja apoiada pela Renova, sequer com uma taça para um concurso de pesca ou uma caixa de papel higiénico para uma quermesse. A Renova, pelo que sei, é uma empresa fechada à comunidade. Para os seus administradores só a nascente do Almonda é que é importante. E certamente a mão-de-obra de proximidade.

Não me custa admitir que a empresa que aluga montras no Museu do Louvre, e quer proibir a população de uma região de ter acesso à nascente de um rio, que sempre foi pública e deve continuar a ser custe o que custar a quem de direito, não me admira que um dia destes não se seja alvo de um movimento internacional de repúdio e de boicote à marca. Há casos recentes que deitaram abaixo marcas mais prestigiadas. Certamente que não é isso que todos nós queremos, nem tão pouco desejamos, mesmo que saibamos que o que nasce torto tarde ou nunca se endireita.

Portugal, o país do respeitinho, foi abalado até aos alicerces com os anúncios do Ikea que ainda vão dar muito que falar se os políticos não forem todos iguais.

A publicidade promete marcar a campanha eleitoral até ao dia das eleições, principalmente o outdoor que anuncia uma estante onde se podem guardar 75 mil euros, valor em dinheiro encontrado no gabinete de Vítor Escária, ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro António Costa.

Em termos públicos e de enxovalho da classe política portuguesa nunca se tinha ido tão longe. Só os episódios com José Sócrates, a viver dos envelopes de dinheiro entregues pelo condutor da sua viatura oficial, João Perna, podem comparar-se à situação vergonhosa vivida por Vítor Escária, seus chefes e subordinados. O facto de António Costa ter continuado como primeiro-ministro ainda justifica mais esta campanha de publicidade sensacionalista. Vítor Escária não terá justificado a existência do dinheiro no seu gabinete e, num país desenvolvido com uma democracia mais vigiada, um chefe de gabinete apanhado com quase 80 mil euros no seu gabinete tinha desaparecido de cena no dia a seguir ao escândalo e o primeiro-ministro tinha ido com ele. António Costa preferiu ignorar que Escária era o seu principal interlocutor no Governo do país e que o comportamento dele pode muito bem ser confundido com o do seu chefe. Nunca uma empresa, ou sequer um dirigente político da oposição política mais extremista, pôs em causa a idoneidade dos políticos portugueses como acaba de fazer o Ikea. Eu não comprava no Ikea mas vou começar a comprar. JAE.