quarta-feira, 29 de julho de 2009

Uma carta do Brasil


Uma amiga, casada com um inglês, a viver no Porto, contou-me recentemente que a sogra telefonou-lhe de Londres a perguntar se em Portugal estavam a par das notícias sobre a morte do Michael Jackson. Que raiva, desabafou. Um amigo brasileiro, descendente de poloneses, enviou-me o texto que resolvi partilhar por ser o espelho da forma como a classe média brasileira ainda vê Portugal e os portugueses. O texto é uma piada. O Brasil é a nossa melhor descoberta mas também é o melhor testemunho de que já não somos o mesmo povo que deu novos mundos ao mundo. Somos mais o povo que gosta de contar piadas sobre alentejanos. Ora aqui está uma boa vingança que chega do Brasil.
Querido filho Manoel Joaquim
Escrevo-te esta linha para que saibas que a mãe está viva. Vou escrever bem devagar, pois sei que não consegues ler depressa. Caso estejas sem tempo de escrever à mãe, manda uma carta dizendo que quando estiveres mais tranquilo vais mandar notícias. Se tu viesses hoje aqui em casa não irias reconhecer mais nada, porque mudamos.
Temos agora uma máquina de lavar roupa. Mas não trabalha muito bem. Na semana passada pus lá 14 camisas, apertei o botão e nunca mais as vi. Vai ver que esta marca Hydra não é das melhores.
Tua irmã Maria está grávida. Mas ainda não sabemos se vai ser menino ou menina. Portanto,não podemos te dizer se vais ser tio ou tia. Teu pai arranjou um bom emprego. Tem 2300 homens abaixo dele. É o responsável pelo corte da grama do cemitério.
Quem anda sumido é teu tio Venâncio, que morreu no ano passado. Lembras-te do teu tio Joaquim? Então... afogou-se no mês passado num depósito de vinho. Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o tio lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado há duas semanas. Levaram oito dias para apagar o incêndio.
Os engarrafadores de refrigerante aqui finalmente tiveram a grande idéia de colocar uma indicação na tampinha, dizendo “abra por aqui”. Facilitou-nos muito a vida.
Espero que os daí façam a mesma coisa.Caso esteja difícil para ti, a mãe te manda algumas garrafas. Teu irmão, João Manuel, continua o mesmo de sempre.Semana passada fechou o carro com as chaves dentro. Perdeu um tempão indo até a casa pegar a cópia da chave, para poder tirar-nos todos de dentro do automóvel. Estava um calor de rachar.Por falar em calor, o tempo aqui está muito estranho. Esta semana só choveu duas vezes.Na primeira vez choveu durante 3 dias e na segunda vez choveu durante 4 dias.
Esta carta te mando através do Gabriel, que vai amanhã para aí. A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto?
Lembrei de uma coisa importante. Terás um problema para falar com a mãe,caso decidas escrever-me. Não sei o endereço desta casa nova.
A última família que morou aqui, antes de nós, também era portuguesa, levou a placa da rua e o número da casa para não precisar mudar de endereço.
Se encontrares Teresa, dê-lhe um alô da minha parte. Caso não a encontres, não precisas dizer nada.
Adeus.
Tua mãe que te ama.
Fátima Manoela da Alcova
P.S. Ia mandar-te 2000 euros, mas fica para outra vez. Já fechei o envelope.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Onde é que está a notícia ?


A verdadeira notícia desta semana não é a recandidatura de Pedro Ribeiro nas listas do PS à Câmara de Almeirim. Toda a gente palpita que Pedro Ribeiro é o candidato natural à sucessão de Sousa Gomes. Se não for é que será de admirar. Para mim a notícia é o estado de saúde de Francisco Leonor, o conhecido homem das antiguidades da cidade que, segundo sei, está a regressar de um período de internamento no hospital. Toda a gente da cidade a quem perguntei por ele nestes últimos tempos tinha uma história para contar do Senhor Leonor.
A verdadeira notícia em Tomar não é o facto de haver sete candidatos a presidente de câmara. Para mim a notícia é o regresso de António Paiva à luta pela reconquista do poder pelo PSD e pela vitória do homem que ele chamou para a sua equipa enquanto foi presidente. Na política estes exemplos são muito raros. Quem sai fica sempre a torcer para que os que vêm atrás fechem a porta. Ver António Paiva a defender a continuidade do seu trabalho num projecto de um seu ex-vereador é um sinal de que em Tomar nem todos estão no mesmo saco de gatos.
A notícia em Vila Franca de Xira não é o facto de Maria da Luz Rosinha apagar a luz das casas de banho dos homens quando é a última a sair do edifício da câmara ou, até, a sua confissão de que José Sócrates lhe terá dito que a intenção das quotas para as mulheres foi para proteger os homens num futuro próximo. Para mim o que é notícia é o facto de Rosinha se recandidatar a mais um mandato depois da polémica sobre a revisão do PDM que deixou marcas nas discussões com os agentes locais das várias freguesias. Quando toda a gente da política lisboeta promete segurar a população, e reactivar as tradições nos bairros mais populares, o concelho de Vila Franca de Xira, que já tem cerca de 130 mil habitantes, prepara-se para receber mais trinta mil nos próximos quatro anos. Para mim é aqui que está a notícia. E saber que toda esta gente vai sair de Lisboa ainda me deixa mais espantado.
Para mim a notícia não é o facto do presidente da Entidade Regional de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, o socialista Joaquim Rosa do Céu, não ter entregue, como devia por questões legais e éticas, a sua declaração de rendimentos no Tribunal Constitucional depois de ter tomado posse do novo cargo. Notícia para mim continua a ser ele ter dito, na altura, que desconhecia o negócio da transacção de terrenos na zona industrial de Alpiarça em que o pai embolsou uma boa maquia. A gente acredita porque não nos resta outra alternativa mas que é difícil engolir lá isso é. Então o presidente da câmara tem o seu próprio pai a negociar terrenos com o município e não sabe ? Ora aqui está uma boa notícia que continua a merecer actualização.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Joaquim Rosa do Céu: o Príncipe Perfeito


Lenine passou os últimos dias da sua vida a caçar rouxinóis à pedrada. As imagens estão num filme de um jovem realizador russo que mostra um Lenine de traços rígido e apopléctico. Levaram-no para um sítio na Crimeia, na Primavera, para a beira de um lago, ao sol, esperando que aí se sentisse bem. Mas os rouxinóis roubavam-lhe o sono todas as manhãs. Então certa manhã precipitou-se para o jardim e começou a perseguir os rouxinóis. Agarrou em pedras que lhes atirava. De súbito sentiu que não era capaz de levantar as pedras: paralisara. Era a vingança elegante -leve como um sopro, mas implacável- dos rouxinóis sobre o grande revolucionário, que não podia suportar o seu canto.
O relato vem no novo livro do escritor Imrer Kertész (prémio Nobel 2002) e serve às mil maravilhas para retratar o estado de espírito do ex-presidente da Câmara de Alpiarça, Joaquim Rosa do Céu. No dia em que O MIRANTE publicou um texto sobre eventuais favorecimentos do ex-presidente da câmara ao seu pai, agente imobiliário com negócios no concelho onde o filho era o “manda-chuva”, O MIRANTE passou a inimigo público do autarca alpiarcense. O caso acabou em nada, como aliás acabam todos estes casos depois de muitos anos em tribunal. Mas O MIRANTE, no seguimento do que fizeram outros órgãos de comunicação social, não escondeu a notícia. Pelo contrário: demos a visibilidade que o caso merecia não deixando de fazer também, como é nossa prática, o contraditório. Mas as pedradas de Rosa do Céu contra O MIRANTE nunca mais pararam. Impotente para fugir aos jornalistas da casa que acompanham a vida política local e regional, Rosa do Céu porta-se como um Lenine da política quando as notícias não lhe agradam e perde a cabeça quando vê uma máquina fotográfica nas mãos de um jornalista de O MIRANTE.
Procurando responder a uma crónica publicada recentemente neste espaço, e a um texto publicado na secção Cavaleiro Andante, onde lhe chamamos o Príncipe Perfeito, Rosa do Céu publicou como publicidade paga no jornal O Ribatejo o mesmo texto ofensivo que recentemente também conseguiu publicar neste jornal com a ajuda de uma entidade reguladora ao serviço do PS de que Rosa do Céu faz parte.
Às críticas que lhe fiz, e faço, por ser um político medroso, calculista, paranóico, com a mania da perseguição, incapaz de ser solidário, movimentando-se no meio partidário como um gestor de luxo, um Príncipe Perfeito, Rosa do Céu respondeu com insinuações dirigidas à minha pessoa que se não fossem o espelho da sua personalidade seria caso para dizer que o homem está louco.
Depois da publicação do texto recebi uma dezena de telefonemas solidários de dirigentes do Partido Socialista da região, alguns deles de pessoas que se sentam nas mesmas tribunas políticas de Rosa do Céu. Não faço uso desses nomes por razões que os leitores compreenderão. Mas deixo o registo nem que seja para dar conta que ainda há gente séria e lúcida no PS, que sabe diferenciar as notícias e as opiniões das calúnias. 

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O MIRANTE não é um jornal do PS *


Na passada semana, no dia do fecho do jornal, depois de uma jornada que só acabou às quinze horas, almocei a correr e fui a correr ainda mais depressa para a gráfica onde imprimimos O MIRANTE. O jornal cresce, a equipa cresce, tudo vai crescendo devagarinho. Só quando surgem as contrariedades é que nos lembramos que quanto mais subimos maior é a queda.
Com as três edições a caminho da gráfica pelas estradas virtuais fomos em equipa pela A1 a 139 à hora tentar perceber mais uma vez as razões para a má impressão do jornal, as fotos sem qualidade, as cores alteradas, os planos sobrepostos que desvirtuam as imagens, as contrariedades no mailing que atrasam a chegada do jornal aos assinantes, enfim, mil e um problemas que se escondem numa organização que deveria ser perfeita tendo em conta o preço que pagamos.
Eram seis e meia quando saí a correr da gráfica e dei um salto à praia de Oeiras. Como estava ali perto resolvi acabar o meu dia esticado ao sol. Até às nove horas pareceu-me que passou uma eternidade e a sensação foi de que sentia-me compensado depois de um dia duro de trabalho.
Foi o sentimento do dever cumprido que me fez voltar atrás no tempo e recordar mais uma vez a imagem que guardo do antigo director do jornal da minha terra, que eu conheci quando ainda era muito jovem, e com quem colaborei dirigindo uma secção do jogo de damas.
Na altura em que o jornal era impresso em Rio Maior, cruzei-me várias vezes com o senhor António Bento na estrada entre a Chamusca e Santarém quando ele, na sua vespa, que não devia dar mais do que 50 à hora, cumpria sozinho uma função que, hoje, eu e os meus companheiros de trabalho também cumprimos religiosamente: escrevemos, fotografamos, editamos, paginamos, filmamos, vamos discutir para a gráfica os problemas das novas tecnologias japonesas, enfim, fazemos tudo e mais um par de botas. A grande diferença é que temos menos tempo para viver a nossa vida e mostrar bom trabalho.
Deitado na areia da praia de Oeiras, depois de um dia filho da mãe, ainda tive tempo para fazer três telefonemas para provocar notícias e, um deles, quem sabe, para nos abrir novos horizontes para continuarmos a crescer mesmo sabendo que quanto maior for a subida maior será a queda.



433 foi o número de anúncios pagos que publicamos na última edição de O MIRANTE o que corresponde, mais coisa menos coisa, a 50 páginas de publicidade numa edição que se publicou com 96 páginas. Não conheço outro jornal que se publique no mercado português que mostre trabalho como nós mostramos. E é certo que não vamos ficar ricos. Mas é assim que, desde sempre, nos defendemos dos sacanas que vivem dos honorários do contrabando político com os bolsos cheios a rasgarem-lhes as entranhas, os rins e o baço.


* Na próxima semana, fica prometido, acabo com esta história que me tem estragado os títulos da minha crónica.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O MIRANTE não é um jornal do PS *


     Gostava de escrever um livro com todas as minhas histórias de riso. Sei que não tenho génio para isso nem vagar para me entregar a um ofício que é muito mais de escravo que de sultão.
     Há uns anos frequentava o mesmo ginásio que um conhecido ministro do Governo de Durão Barroso com quem tinha umas “contas a ajustar” por causa da distribuição de subsídios aos jornais. No dia certo, à hora certa, encontramo-nos nos balneários, partilhando cacifos lado a lado. Cumprimentei o sr. ministro com um olhar sorridente e olhei em frente enquanto pendurava a minha roupa. A resposta, como não podia deixar de ser, foi um cumprimento educado. Viva sr. ministro, ainda bem que o encontro. Deve ter muito para me contar sobre os apoios que o Governo este ano atribuiu a um conjunto de jornais todos do mesmo grupo que ainda por cima tem como negócio principal a construção civil. Foi mais de meia hora de conversa com os calções na mão e a toalha ao ombro. A conversa foi muito civilizada, apesar de aguerrida, mas fiquei sempre com a sensação que o ministro mudou de ginásio para não voltar a cruzar-se comigo na hora do descanso.
     Foi no mesmo clube que um dia ouvi o Herman José em amena cavaqueira com dois amigos a propósito do processo Casa Pia. Como a conversa era picante fiz trinta por uma linha para fazer render o tempo que me tinha levado ao balneário para olhar o telemóvel e ver se tinha algum recado urgente. Devo ter demorado um quarto de hora a consultar o dito cujo. Foi tão demorada a consulta e a teatralização do acto que deu para ouvir um dos protagonistas dizer que o melhor era falar mais baixo que a conversa estava interessante mas havia um tipo a ouvir com cara de jornalista. Eu sorri e não fingi que era surdo. Saí do local com um até já e com uma nova toalha na mão. Fiquei com matéria para uma primeira página. Não pelas revelações mas pela opinião que o tio Herman tinha sobre a Justiça e os episódios curiosos das investigações e das ditas fugas de informação.
     No passado sábado, enquanto batia os braços e as pernas dentro da piscina como os tipos que sabem nadar (de verdade eu aprendi a nadar na água funda do rio Tejo, e para mim nadar é sempre fugir da água funda), reparei que a um canto, junto aos degraus, o Cristiano Ronaldo fazia alongamentos. Eu nadava de costas como sempre e ele de dez em dez segundos, depois de endireitar aquele corpo que parece o tronco de uma árvore, dirigia o olhar na minha direcção e sorria. Queres ver que ele pensa que eu sou a Margarida Rebelo Pinto (que também é nossa colega no Clube) ?
     Ah! falta contar que a certa altura adormeci na espreguiçadeira e fui acordado por um ronco muito estranho que me pareceu de um jogador de futebol. Quando olhei para o lado, a pensar que o Cristiano ainda lá estava de telemóvel na mão e com a toalha enfiada na cabeça como um muçulmano, o que vi foi uma inglesa de 20 anos a olhar para mim com cara de espanto. Bolas!! Bem diz o meu filho Bernardo que eu ressono alto sempre nas piores alturas.


     * Depois explico este título que não tem nada a ver com a crónica.