quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A política como disciplina


Sou um homem orgulhoso por ter a maioria dos meus melhores amigos fora dos circuitos da política. A política interessa-me como disciplina da cultura; de resto subscrevo aquilo que Ferraz da Costa disse recentemente numa entrevista ao Expresso: “Portugal não tem dimensão para se roubar tanto”.
Sinto-me envergonhado por viver e trabalhar num país cujas instituições são geridas por reformados. Dou um triste exemplo: Joaquim Rosa do Céu goza a sua merecida reforma a gerir, pelos vistos ilegalmente, uma instituição que movimenta milhões de euros. Toda a gente diz que o Turismo é uma das maiores apostas da nossa economia; que só sobreviveremos à custa do dinheiro que chega de fora: dos emigrantes e dos turistas que encontram em Portugal um país de sonho e bons costumes. Alguém acredita que com o sector do Turismo entregue a políticos reformados saíremos um dia da cepa torta?


Pacheco Pereira é o cabeça de lista do PSD no distrito de Santarém às próximas eleições autárquicas. Não tenho nada contra o ilustre comentador e opinador de jornais e televisões (para além de excelente autor). Mas é outro reformado. Ainda por cima pediu a reforma com base nos anos de trabalho como deputado. É justo que volte a exercer o mesmo cargo ainda por cima liderando as tropas? A malta dos trinta e dos quarenta é nova demais para governar este país? Não está na hora de exigir à classe política mais ambição e renovação?


O “Correio da Manhã” e o ”Público” são o exemplo de dois grandes jornais de referência com uma redacção de jornalistas de primeira linha para tratar os assuntos de Lisboa, e uma dúzia de profissionais avençados, que têm dois ou mais empregos, a trabalharem na província.
E a gente espanta-se com este país em que até os jornais de referência são um mau exemplo.
Quem acompanhou o caso do “monstro de Almeirim”, que fez manchete no Correio da Manhã, sabe do que falo. Quem acompanha o “Público” diariamente, e lê os textos sobre os problemas da nossa região, sempre tratados com pinças e a favor da corrente, sabe ainda melhor onde quero chegar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Uma região sem administração


No Verão passado, por esta altura de Agosto, fui atacado por dois cães de raça na maracha do Tejo no campo da Chamusca. Assim que encostei a bicicleta ao canavial, e me fiz notado, dois cães correram na minha direcção de tal forma que pensei: “estou frito”. Fiz imediatamente aquilo que mandam as regras. Estendi os braços ao longo do corpo e em sentido colei-me ao chão. Com os cães a meio metro de mim, rosnando e saltando com as patas dianteiras quase ao nível da minha cintura, fiz uma estátua durante cerca de 10/15 segundos, ou seja, uma eternidade até que uma voz feminina mandou recuar os cães.
Um casal de jovens estrangeiros acampou na maracha e enquanto dormiam uma sesta tinham dois cães raivosos a guardá-los. Escusado será dizer que depois do susto dei meia volta, agarrei na minha bicicleta e fui à procura do rouxinol da caneira para outras bandas (embora a propriedade, por onde eles passaram para entrarem na maracha, seja minha). Mas não saí de lá sem reparar que o cavalheiro que acompanhava a jovem e bonita mulher continuou a dormir a sesta tranquilamente em cima de uma manta e tranquilamente lá ficou a dormir .
O caso vem a propósito porque na passada semana ajudei a juntar a uma mesa de um restaurante responsáveis pela Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira e dirigentes empresariais da região de Santarém. A lezíria na zona do Médio Tejo não é nada parecida com a lezíria de Vila Franca. Mas os problemas são os mesmos embora em menor dimensão. Enquanto na lezíria de Vila Franca se instalou a ordem com o controle de todas as pessoas que entram naquele espaço, disciplinando a conduta dos caçadores, pescadores e gente aventureira que anda por ali com a casa às costas, na lezíria, para os lados de Santarém, ainda é tudo como Deus quer. E até as marachas, que deviam estar para o rio como a luz eléctrica está para as ruas das cidades vilas e aldeias, não tem uma entidade que peça contas e que obrigue os proprietários a conservá-las. Ao contrário, há muita gente soberba que de ano para ano vai roubando, centímetro a centímetro, espaço na maracha, procurando assim produzir mais uns milhares de quilos de milho ou de tomate, com os inconvenientes que não é difícil adivinhar.
Numa região às portas de Lisboa, com a terra mais produtiva do país, servida por um rio tão generoso como uma placenta, vivemos realidades tão distintas ao nível da organização do território, e dos interesses da generalidade das pessoas, que parece que estamos no terceiro mundo. Há uma divisão administrativa do país que, é facto comprovado, não coincide com os interesses das populações e faz de nós o país agrícola mais pobre da Europa desenvolvida.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um dia fui à bruxa


Inspiro-me nas novelas da vida política portuguesa para fugir ao tema que enche as páginas dos jornais e os noticiários das televisões.


Há três décadas, naquela idade em que um homem é capaz de fazer trinta por uma linha, fui à bruxa levado por uma vizinha que gostava muito de mim. Eu tinha pouco mais de 20 anos e não sabia dizer que não a uma pessoa que me queria muito bem. E a minha curiosidade era daquelas que podia matar. Como não morri, nem sequer de susto, fiquei com uma boa história para contar. A bruxa pôs-se a adivinhar e eu, antes que a aventura terminasse, não me fiz rogado e comecei a fazer perguntas. Como a bruxa não conseguiu responder-me no presente com a mesma habilidade com que tinha previsto algumas situações no meu futuro, saí do seu consultório em passo de corrida e mais ou menos excomungado.


Tenho a memória cheia de lugares e de pessoas que encontrei nas minhas viagens. Lembro-me com muita frequência de uma visita ao Museu de Arte Moderna de Nápoles, em Itália, e de ver uma sala com as paredes nuas e cheia de vidros no chão. Perguntei a um guia que tipo de arte é que se encontrava naquela sala. A explicação foi rápida e concisa: o autor tinha atirado um vidro contra uma das paredes e o desenho que os vidros fizeram no chão ao caírem constituíam a obra de arte.


O meu avô paterno não sabia ler nem escrever mas era um mestre a contar histórias que ainda hoje recordo e procuro insistentemente nos alfarrabistas. Mas são as histórias da vida real que mais me marcaram e que me servem de alimento. Um dia contou-me que teve uma cabra às portas da morte durante sete dias. Ao sétimo dia lembrou-se de mandar rezar o quebranto ao animal e, de uma hora para a outra, a cabra já vendia saúde e começou a comer com o apetite de quem não se alimentava há um ano. Foi um milagre contava ele cada vez que eu o interrogava sobre o assunto e dizia não acreditar em bruxarias.


Queria fugir ao tema da política mas a coluna ainda aguenta mais palavras.
Os dirigentes nacionais do PS e do PSD vão à bruxa todos os dias e não se fazem rogados a pôr em prática os conselhos das feiticeiras.
É minha convicção que a maioria da nossa classe dirigente faz da política a arte de mandar vidros contra as paredes para desenharem no chão os seus verdadeiros predicados e as suas reais intenções.
Por último: dou um garrafão de cinco litros de azeite a quem souber rezar o quebranto e ainda acredite que é possível salvar das mãos destes políticos miseráveis o grande rebanho de cabras do qual a grande maioria de nós faz parte.