quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A falta de uma política florestal não é um crime?


Quando o nosso território florestal e agrícola for uma manta de retalhos, sem vegetação, sem animais, sem água, com os ribeiros e os rios secos e assoreados, já será tarde para acreditar em milagres. Pior do que perder a riqueza florestal e agrícola é perdermos a nossa identidade. Sem emprego para aqueles que ainda insistem em viver na sua terra, vamos todos de comboio para Lisboa, ou para os dormitórios de Lisboa, que há-de ser bem melhor do que viver na aldeia como os macacos vivem no zoológico (É claro que ficaremos sempre alguns. Quanto mais não seja para demonstração da espécie nas visitas guiadas para turistas nacionais e estrangeiros).Há trinta anos a charneca ribatejana era um oásis. Hoje é terra queimada. E, nos casos em que já não há memória do fogo, a charneca é um imenso eucaliptal. Mais uns anos e será o caos. Se os governos do país continuarem a olhar para os recursos dos nossos territórios da charneca como continuam a olhar para as reservas de ouro do Banco de Portugal, vamos ficar muito mais depressa sem a riqueza florestal que ainda nos resta do que sem o ouro português amealhado durante tantos anos.
Um dia destes só teremos olivais (no Alentejo) e eucaliptais. Tudo por conta dos espanhóis no primeiro caso e das celuloses no segundo. A falta de uma política florestal para o nosso território é um crime. Não sei quem é que vai responder por ele. Quem enriquece à custa do crime não é o país. São os donos das terras e os capitalistas das celuloses. Mas são os políticos os últimos responsáveis. E não vejo nenhuma razão para fazer dos proprietários dos terrenos os maus da fita. Num mercado de livre concorrência cada um procura defender os seus interesses o melhor que sabe e pode. Esperar que sejam os proprietários das terras a substituírem-se ao Governo do país é acreditar na Nossa Senhora de Fátima e, pior do que isso, é esperar que seja Ela a trazer-nos a salvação para a nossa floresta.

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