quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A luz ao fundo do túnel


Por favor quero falar com o senhor presidente. O segurança riu-se descaradamente e nem abriu a boca como quem diz quem é este tipo. Notando a cara de gozo perguntei-lhe; fiz-lhe alguma pergunta ofensiva? Percebendo que começava a ficar entalado respondeu que o assunto não era com ele e indicou-me uma colega que se encontrava na sala ao lado. Quando me dirigi a ela fiz-lhe a mesma pergunta com o à vontade de um munícipe que vai a um organismo público e em vez de pedir para falar com os anjos diz que quer falar com Deus nosso senhor. Por favor o senhor presidente está ? Quem é você ? Não sou eu que lhe posso responder. Então passe-me a quem me possa responder. E há terceira tentativa lá consegui chegar à fala com alguém que me disse que o presidente estava fora do edifício numa sessão pública em Lisboa. Resumindo: algumas autarquias não são lugares onde um cidadão entre e possa perguntar pelo presidente da câmara. Se perguntar é gozado com o maior descaramento. Estamos a voltar ao antigamente em certos organismos públicos. O povo é tratado abaixo de cão por funcionários acomodados e mal preparados para o seu ofício. Alguns são arrogantes e malcriados com pessoas da sua classe que, em muitos casos, procuram desesperadamente solução para os seus problemas. Não era o caso. Mas é nossa obrigação falar em nome de quem tem razões de queixa.


O arquitecto Ribeiro Telles é um romântico. Ouvi esta frase antes e depois de participar como assistente em mais uma sessão das Conversas do Vale do Tejo que a NERSANT organizou na aldeia do Arripiado, na Chamusca. Como sou um admirador do arquitecto, homem de ideias grandes e de combates justos, fiquei desiludido com o debate. O ex- homem da Quercus, José Manuel Palma, com a complacência da jovem moderadora, não deixou falar Ribeiro Telles. Muitas, muitas vezes, atrapalhou o seu discurso, interrompeu e impediu os presentes de ouvirem a voz mais autorizada deste país a falar de ambiente. A oportunidade podia ter sido melhor aproveitada se a moderação fosse mais profissional.


A Feira a preto e branco, um livro de fotografia da autoria de Dinis Ferreira, juntou na Sala de Leitura Bernardo Santareno cerca de uma centena de pessoas. Há muito tempo que não via reunidos a fina-flor da cidade. Aqueles rostos são os mesmos que vemos há muitos anos no mesmo tipo de iniciativas. Estava ali a maioria das pessoas que mais contribuem para o espírito crítico desta cidade e para o valor que ela tem entre portas e lá fora. Esta terra não se renova disse-me alguém, entre dentes e sorridente. Temos que nos contentar com o que existe. E ainda bem que temos esta gente bairrista e solidária. Bem pior era termos tudo isto e não vermos a luz ao fundo do túnel, respondi. O texto de Francisco Moita Flores que serve de prefácio ao livro de Dinis Ferreira é uma das luzes ao fundo do túnel. 

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