quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Notícias da minha terra


Há muitos anos assaltaram-me a loja (no verdadeiro sentido da palavra).
Às quatro horas da manhã bateram-me à porta e quem deu o alerta disponibilizou-se para ir comigo à caça dos gatunos. Uma hora depois do assalto, usando um pequeno truque (que não tem interesse contar para o caso) e o conhecimento que tínhamos das ruas da vila, apanhamos à mão dois dos gatunos (havia um terceiro mas nunca foi possível provar) numa rua do centro da Chamusca da mesma forma como dantes se apanhava peixe nas lagoas.
No dois para dois com os gatunos fui eu o primeiro a ceder. Nunca fui bom a brigar e, sempre que briguei, noutros tempos, era mais com o vinho que com pessoas. No dois para um, que começou logo que eu deixei fugir o gatuno que me tinha calhado, foi então mais fácil levar até à porta da GNR o gatuno que sobrava. Chegou de braço torcido, com alguns murros pelo caminho para acalmar.
O repórter do jornal da minha terra foi à procura da notícia no dia seguinte.
Contei-lhe o que se tinha passado mas pedi-lhe para não publicar a notícia.
Como era amigo dele, e para além de amigo era colaborador e anunciante regular do jornal, a notícia acabou por não ser publicada.
Resolvi recordar esta história para realçar o facto de ser muito fácil, quando se dirige um pequeno jornal, editá-lo à medida dos interesses de quem o dirige ou das pessoas que lhe estão próximas. Embora tenha fundado O MIRANTE com outro espírito não me custa reconhecer que nos primeiros tempos, enquanto fui aprendendo, também cometi alguns erros de amador, como cometeu o meu amigo repórter do jornal da minha terra.
Foram essas experiências, algumas dolorosas, que me obrigaram a apostar mais neste jornal e a fazer de O MIRANTE um projecto profissional e de serviço público.
O facto de viver na mesma rua que muitos dos protagonistas de algumas das nossas notícias, dá a ideia de que sou eu que as escrevo, ou que sou eu que as procuro e mando agendar para dar trabalho à redacção. Aliás, é isso que pensam muitas pessoas que, depois de serem notícia, vão bater à minha porta para pedirem satisfações. E quando eu não abro a porta, por não estar em casa, não estão com meias medidas; se não podem pedir directamente a mim pedem a quem vive na mesma casa que eu.
Quando as notícias sobre as pessoas minhas vizinhas são boas e contentes a minha rua é um sossego e dorme-se à noite na minha cama como se os escapes rotos das motos e o ladrar dos cães fossem música para os meus ouvidos.
Quando as notícias sobre os meus vizinhos são amargas e pouco felizes até o barulho do relógio da igreja matriz a bater as horas faz da minha rua um verdadeiro desacato.
Como eu gosto cada vez mais da minha terra, da minha rua e dos meus vizinhos de sempre. 

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