quarta-feira, 6 de maio de 2009

O 10 de Junho em Santarém


Ando a ler a poesia lírica de Camões com a fixação do texto, prefácios e notas de gente ilustre das nossas letras. Durante o último mês sentei-me à mesa e dormi com a lírica de Camões e com as várias versões de alguns (muitos) versos da sua lírica. Pela primeira vez na vida percebi a grandeza da Obra Poética de Luís Vaz de Camões e o quanto se desconhece sobre a sua vida e a forma como os seus poemas chegaram até aos nossos dias.
O poeta não se limitou a viver para escrever a sua Obra; deixou-a espalhada aos quatro ventos. E como não há poeta com sorte, os que eram do seu tempo e perceberam a grandiosidade da sua lírica resolveram chamar a si a autoria de muitos poemas e, noutros casos, onde o engenho e a arte também eram grandes, escrevinhadores organizaram antologias da poesia de Camões mas com muitas alterações em alguns dos poemas. Todos, ou quase todos, lhe meteram a mão nos versos procurando corrigi-lo de forma a agradarem às gentes do seu tempo. Ainda hoje é assim. Ninguém conhece, mais de quatro séculos depois, a veracidade da autoria de uma boa parte dos versos atribuídos a Camões. Num prefácio a um livro que reúne os Sonetos, José Hermano Saraiva puxa as orelhas à inteligência nacional e pergunta onde andam os estudiosos deste país que não conseguem fixar os textos escritos por Camões limpando a sua Obra dos vários equívocos; “a erudição oficial portuguesa tem-se aplicado a pirotecnias masoquistas e esquece que está por resolver essa questão: quais os versos escritos pelo principal poeta do renascimento português?”.
Também eu ando por aí a organizar uma antologia da sua lírica para editar por alturas do 10 de Junho. As comemorações em Santarém prometem ser um marco na história da cidade e da região. O MIRANTE associa-se à data e vai editar um livro que homenageia o Poeta.
A minha esperança, como homem desta terra e cidadão militante, é que as festas do 10 de Junho em Santarém envolvam todas as pessoas e instituições do concelho assim como todas aquelas que gostam da sua região e fazem a diferença nas empresas, nas escolas ou nos clubes da sua terra.
Por mim não quero saber das condecorações e das homenagens. Não viro as costas, por respeito, mas a minha esperança é que se mobilizem os cidadãos para que, durante alguns dias, possam visitar a cidade de Santarém e tudo o que a Comissão das Comemorações do 10 de Junho vai mostrar que retrata os nossos oito séculos de História. Não exageremos no orgulho mas também não ignoremos a importância do acontecimento que se vai realizar à nossa porta.
Ninguém vai ressuscitar Camões e encontrá-lo na vala comum onde terá sido sepultado. Não temos universidades em Santarém para sentirmos culpa pelo abandono e desinteresse pela Obra de Camões. Poderemos no entanto aproveitar a data para mostrarmos que temos orgulho e vaidade em sermos portugueses e da família de um dos maiores poetas do mundo que dizia que tinha “impressa na alma a larga história”.

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