quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O cadáver do primeiro-ministro


Tu és como eles. Tu és como eles. A frase ficou a martelar na minha cabeça até à hora em que resolvi escrever esta crónica. Depois desapareceu como uma abelha na chuva.
Tenho o privilégio de ler diariamente os cronistas da nossa praça que falam dos grandes temas da actualidade. Escrevem todos sobre o mesmo e da mesma forma. Regra geral cada cronista cada mensageiro da desgraça. As palavras e as ideias são certeiras e inteligentes. Do Sousa Tavares ao Pulido Valente, do Baptista-Bastos ao Moita Flores, é ver quem melhor disseca o cadáver do primeiro-ministro; do banqueiro gatuno; do politico falsário. Não falta na sociedade portuguesa ingredientes para os grandes senhores do jornalismo de opinião nos guiarem no meio do pântano.
Eles escrevem sobre o Face Oculta, as negociatas da PT e da Caixa Geral de Depósitos; o Freeport; a Casa Pia; o BPN; a Operação Furacão; os concursos públicos; as fundações manhosas que servem para lavar dinheiro, os projectos PIN; etc. etc. A ideia que fica a cada dia que passa é que somos um país de sucateiros ricos e de gestores de luxo pagos a peso de ouro.
Como há outro mundo para além do Portugal das primeiras páginas dos jornais nacionais e dos noticiários das televisões procuro escrever neste espaço sobre a vidinha fora dos grandes circuitos do Poder e das influências dos barões do regime. E a minha caixa de comentários são as conversas que vou fazendo entre o caminho de casa e a redacção do jornal.
Em Santarém ou na Chamusca, em Tomar ou na Azambuja, como em Lisboa, o mais fácil é encontrarmos amigos a mandarem o país à merda.
No passado domingo saí de casa para o campo a meio da tarde e encontrei um agricultor quase falido a podar oliveiras a troco da lenha. No regresso a casa encontrei outro a lavrar a terra para as novas sementeiras com a garganta inflamada de tanto gritar que o ano passado fez 30 hectares de milho e não sobrou um cêntimo depois de pagar as despesas. Hoje atravessei a vila e quando parei num café para beber a bica fui abordado por um amigo que sempre trabalhou no campo para me pedir emprego atrás de uma secretária. Não lhe disse que não mas tentei explicar-lhe que não tenho trabalho para lhe dar. Quando percebeu que o pedido ia acabar em nada aproveitou para me contar a sua crónica à Pulido Valente: somos um país de corruptos e continuamos a ser governados como antigamente por gente miúda e incompetente que numa próxima oportunidade vai comer-nos os ossos; e tu és como eles, tu és como eles…


A Tatiana, o Filipe e a Soraia estão ao colo da mãe numa foto que publicamos nesta edição de O MIRANTE. A jornalista que conta a história e tem acompanhado o caso diz que se comoveu com os abraços e os mimos que as crianças lhe dispensaram. Falta contar que o director de O MIRANTE recebeu recentemente carta do Ministério Público que o intima a dar conta dos nomes de quem tem produzido informação sobre este caso. Para bom entendedor meia palavra basta.

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