quarta-feira, 28 de maio de 2008

O milagre dos malmequeres


O Estado português está a emagrecer o seu quadro de pessoal. Um dia destes um juiz confessou em plena sala de audiências do tribunal de Santarém que os excedentários que foram parar ao seu tribunal eram motoristas de profissão. Se isto não é o caminho da desgraça então o que é a desgraça da reforma da função pública?
Ontem almocei com um alto quadro de um Ministério, um homem da minha idade, que está a negociar a reforma antecipada. Conheço o seu trabalho e sei bem o que lhe estão a fazer. O Estado precisa de eliminar as gorduras a mais mas, nesta operação, procedendo sem olhar a meios, vai levar atrás o músculo que ainda existe em alguns organismos. Um dia destes ficamos todos entregues a dirigentes sem carreira, sem passado, sem experiência de vida que nos vão fazer a vida ainda mais difícil e espinhosa.


O Governo confia cada vez menos nos organismos regionais para gerirem as verbas dos quadros comunitários. Pelo que se sabe da distribuição das verbas do QREN o Estado vai ficar com a grande fatia do dinheiro para distribuir pelas candidaturas que serão analisadas nos gabinetes cor-de-rosa.
Estamos muito perto da italianização da sociedade portuguesa. Sou dos que acreditam nos valores da democracia e no dia em que deixar de acreditar arrumo os papéis e vou cavar terra para semear batatas. Mas o socialismo já era. E a social-democracia é coisa lá para quando formos todos para o céu e andarmos de mão dada a apanhar malmequeres. O capitalismo está aí, com toda a sua força, nos lobys dos banqueiros, dos construtores civis, dos deputados, dos autarcas e dos gestores públicos que, nalguns casos, têm mais poder que os membros do Governo.


O episódio do cigarro no avião em que o Primeiro-ministro José Sócrates viajou para a Venezuela, que fez manchete em jornais de referência, é o melhor exemplo do Portugal provinciano que ele governa. Do convívio durante horas e horas dos jornalistas com uma comitiva de lordes e condes do novo regime, não tivemos notícias relevantes das piadas ordinárias que eles contam uns aos outros, das fantasias que eles encarnam como príncipes de um Portugal falido, das conversas sobre caçadas, compras de montes no Alentejo, casas no Algarve, negociatas, bravuras e outras tontices próprias de gente que vive num outro mundo.
Em vez disso tivemos a notícia de que Sócrates fumou um cigarro durante uma viagem de avião. E, imaginem, foi motivo para o Primeiro-ministro pedir desculpa aos portugueses. Um dia destes os jornais de Lisboa vão fotografar o PM a mudar de calções, por causa daquela mania de fazer atletismo, e vai ser primeira página nos jornais de Lisboa o tamanho da ferramenta de José Sócrates. É mais do que certo.

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