quarta-feira, 11 de março de 2009

Os jornalistas e os agricultores


A grande força dos agricultores, há 20/30 anos, era a força do associativismo. Reunidos em cooperativas ou associações, os agricultores vendiam os melões, as uvas, o tomate, o trigo e o milho e prosperavam.
Hoje cada um faz pela sua vidinha. No milho e no trigo ainda se vão entendendo. No resto das culturas estão entregues à bicharada, ou seja, são cilindrados pela força das grandes superfícies que negoceiam os produtos agrícolas muito mais baratos com os produtores de outros países.
O melhor exemplo foi o que se passou este ano com a laranja. Ficou toda nos pomares e a que se vendeu foi a um preço que nem dá para as despesas.
Na semana em que a Agromais-Plus faz dez anos é justo referenciar a organização que ainda faz a diferença. E salientar o nome de Luís Vasconcelos e Souza que tem sido o grande timoneiro da Agromais e das empresas associadas.
Mas não era só na agricultura que os portugueses se associavam para sobreviverem e para terem sucesso. Nos jornais, que é um negócio bem mais pequeno e diferenciado, a força do associativismo fazia milagres nas negociações com o Governo a propósito de apoios assim como na definição de estratégias para o sector.
Hoje a comunicação social está na mão de meia dúzia de grandes grupos económicos. E o futuro dos profissionais da comunicação não é mais sorridente que o futuro dos agricultores. Mesmo tendo em conta que Portugal ainda tem um mercado para a imprensa regional, um mercado que ainda tem muito para dar, nada leva a crer que ainda estamos a tempo de ver nascer jornais e televisões dirigidos e controlados por jornalistas que não têm mais nada a defender que projectos culturais e de intervenção cívica que são a base de toda a informação livre.
Assim como ninguém percebe a razão que levou os agricultores a deixarem falir as cooperativas e as associações onde podiam defender a sobrevivência e a salvação dos seus rendimentos, também ninguém percebe como é que numa aldeia global como aquela em que vivemos os grandes jornais e as televisões continuam propriedade de meia dúzia.
A agricultura nunca foi uma profissão que enchesse o orgulho de muita gente. O jornalismo sempre foi, e ainda é em boa parte, a mais prestigiada das profissões, onde todos gostam de molhar o bico nem que seja apenas para fazer o gosto ao dedo.
Ou muito me engano ou ainda vamos ter no futuro muito jornalista no activo à procura de trabalho no campo querendo sujar as mãos de terra tão orgulhosamente como hoje suja as mãos de tinta.

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