quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Os livros, a festa brava e o futebol

A ligação entre a literatura e a festa brava está bem documentada nos romances de Ernest Hemingway, nas telas e textos poéticos de Picasso, entre muitos outros. Mas não é só ao nível dos grandes artistas que estas duas artes se fundem. No seio de uma família dita normal, como é a minha, também se pode sentir a forte ligação entre o mundo das touradas e a literatura. Eu explico. Um dia destes participei numa tertúlia literária com escritores e jornalistas da moda. Durante duas horas entretive a minha fraca vaidade no meio de uma trintena de assistentes, entre os quais se encontravam meia dúzia de manequins que foram dar um brilho diferente à apresentação dos livros para este Verão.
O mundo à volta dos livros é verdadeiramente cinematográfico. Os escritores na sua grande maioria são tipos esquisitos. Os críticos têm um buraquinho ao fundo das costas por onde regra geral não cabe uma agulha. E os jornalistas de serviço à cultura são verdadeiros peralvilhos. Os grandes editores não têm rosto e quando têm é de cera. Os distribuidores de livros são, regra geral, uns falidos. Só para as livrarias e os leitores é que me faltam adjectivos. Ou por outra: deixem-me poupar palavras.
Tinha a memória ainda fresca deste fim de tarde passado no centro do mundo quando, à noite, em casa, depois de ter partilhado esta experiência, um dos meus filhos começou a fazer o relato entusiasmado de uma viagem a Badajoz para ver uma corrida de toiros. Desta vez foi ela que foi parca em palavras. Mas deu para perceber o encanto que lhe tinha despertado aquele mundo dos toiros e dos homens que, não sendo toureiros, nem cavaleiros nem forcados, são tudo isso e mais um par de chocas, tal é orgulho que sentem por pertencerem a um mundo verdadeiramente fantástico que tudo deve à arte e à fantasia. Tudo como na boa literatura.
Em tempos que já lá vão também viajei nestas nuvens. E nem imaginam como eu me entregava ao sonho. Ainda hoje sou capaz de me perder de amores pela festa brava, principalmente se vejo um jovem toureiro a usar o capote como as mulheres usam os olhos para conquistarem os homens. Mas, deixem que vos diga: o mundo da festa brava ao nível das relações humanas é igual, ou pior, ao ambiente dentro de campo nos jogos do campeonato do INATEL do meu tempo de jogador de futebol.

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