quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Poetas e políticos militantes


No dia em que visitei uma das casas museu de Pablo Neruda, no Chile, na companhia de Jorge Guzmán, fiquei a conhecer um pouco melhor a polémica que envolveu o autor de “O Livro das Perguntas” e alguns dos seus camaradas de letras.
Pablo Neruda não ficou famoso por ser um grande camarada dos homens de letras do seu tempo mas a sua poesia e a sua militância política ainda hoje são reconhecidas e valorizadas em quase todo o mundo.
As montras das livrarias de Madrid enchem-se nesta altura do ano com as biografias de Francisco Ayala e Esther Tusquests, só para citar dois bons exemplos que fazem a diferença neste género literário.
Tusquets chamou ao seu livro de memórias “Confissões de uma mulher indigna” o que acentua bem o registo de vida de uma das mais importantes e famosas editoras de livros e do que foi a sua vida no convívio com as grandes figuras da cultura europeia desde último meio século. “Naquele tempo passávamos horas e horas sentados nas mesas dos cafés. Ninguém tinha pressa ou comentava o facto de ser esperado algures ou de ter que madrugar na manhã seguinte. Reuníamo-nos antes do almoço, à hora do café, a meio da tarde, a noite inteira. E isso não impedia que quase todos estivessem a levar a cabo uma obra importante”.
No mesmo registo Francisco Ayala escreveu as suas memórias e fala do autor de “Confesso que Vivi”. “Neruda era, mais do que um grande poeta, um politico ambicioso e, como político, cometeu a perversidade de pôr a poesia ao serviço dos seus fins. Recordo que em 1945 foi ao Brasil dar uma conferência no Estado de S. Paulo e passou um dia no Rio de Janeiro. Um fotógrafo francês, a trabalhar no Rio, saiu connosco para a rua e fez sentar Neruda num banco do passeio seleccionado entre os jovens negros que estavam observando um deles para Neruda lhe pôr as mãos pelos ombros enquanto fingia falar com os outros que tinham ficado a observar. Uma vez obtida a fotografia despacharam as crianças testemunhas daquela cena comovente em que confraternizavam as raças e os pobres de todo o mundo debaixo da asa da poesia”.
Escrevo estas notas de leitura em viagem com a memória ainda fresca de uma conversa ao telefone com uma amiga que me confessou sentir medo de viver num país onde a liberdade de opinião começa a estar em causa. “Hoje já ninguém vai preso por escrever nos jornais ou publicar livros mas cuidado que o mundo anda perigoso com tanta face oculta e tão poucos a darem o corpo às balas”. Tomei nota mas mesmo assim resolvi deixar aqui este registo simplório sobre poetas e políticos que ajudaram a mudar o mundo. Para melhor, muito melhor, apesar das grandes diferenças ideológicas.



Nota: O Filipe, a Tatiana e a Soraia continuam no centro de acolhimento da Barquinha embora já tenham uma casa para viver e centenas de amigos à espera para continuarem a ser solidários. O “carrasco” responsável por esta situação e a secretária do Governo, Idália Moniz, continuam a dormir descansados e provavelmente já andam a comprar prendas de Natal para os seus queridos filhos.

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