quarta-feira, 24 de junho de 2009

Quem não salta é lampião


     Tenho um amigo de longa data que é das pessoas que conheço uma das mais educadas do mundo. Pratica tudo o que são bons costumes e ainda se lembra dos dias de anos dos amigos; beija a mão das mulheres; pergunta sempre pela família; escreve cartas à mão; telefona a ser solidário por tudo e por nada; enfim, diria que não há no mundo melhor alma do que a dele.
     Uma vez fui ver um jogo de futebol ao seu lado e percebi que o meu amigo não é de ferro. O nosso clube ganhou por cinco a zero. Mas, não sei como nem porquê, ele encontrou dezenas de razões para chamar cornudo ao árbitro, filho da p. ao desgraçado que estava à nossa frente e, mesmo a perder, ainda exibia orgulhoso o cachecol do seu clube; corrupto ao árbitro auxiliar que por azar assinalou mal um fora de jogo, um único fora de jogo e o resultado já estava em três a zero; e mafioso ao treinador da equipa visitante. E mesmo num encontro com a pior equipa do campeonato ainda se levantou meia dúzia de vezes para pular como um adolescente e gritar em coro com uns milhares de fanáticos que “quem não salta é lampião”.
     Enfim, o que eu queria dizer parece que ficou claro (ou não ?); por dentro de um homem de bons costumes, como é o meu amigo, não é difícil encontrar um ser humano que num mundo à parte seria capaz de editar um dicionário de asneiras e, quem sabe, dependendo das circunâncias, deitar abaixo uns quantos sobrolhos se a força e a dureza dos seus punhos o permitissem.


     Fico a dever à NERSANT, que todos os anos organiza uma prova de aventura, a oportunidade de testar as minhas capacidades físicas mas também, e acima de tudo, o meu espírito de tolerância. Tudo o que são grandes contrariedades na nossa vidinha, nomeadamente problemas no trabalho e com os filhos, cornadas dos amigos e dificuldades em dormir, podem ser simples contrariedades comparadas com as dificuldades das provas das edições do Challenger da NERSANT. Este ano a coisa foi mais pacífica mas, mesmo assim, pessoalmente, tive uma das melhores oportunidades de perceber como a vida é dura e nem Deus Nosso Senhor nos pode livrar de irmos para a cama a um sábado ás 10 da noite com o esqueleto feito num oito depois de uma prova de BTT em que me aconteceu de tudo. O mais espectacular foi a descoberta da beleza de um percurso de charneca de 10 km entre Barquinha e Constância. O mais divertido foi ter utilizado o telemóvel para tirar algumas notas pelo caminho e, assim que cheguei à margem do rio Zêzere, ter deitado tudo a perder com um mergulho no rio. O telemóvel não se salvou, e os apontamentos, pelo que me lembro, eram só embalos do momento. Quanto ao mergulho ainda sinto no corpo a diferença entre os oito e os oitenta.

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