quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Santarém uma cidade perdida no mundo



Em Lisboa, numa galeria de arte com a porta fechada, passo a minha tarde de sexta-feira a discutir com uma artista plástica a compra de uma peça de arte. Ando por Lisboa a um dia de semana e tento sentir-me em Paris ou Madrid. Gosto tanto de Lisboa como gosto de qualquer grande cidade do mundo. Caminho a pé pelo Rossio e tenho meia dúzia de amigos para visitar na Rua do Ouro e na Rua Augusta. Vou aos Restauradores e cumprimento de passagem o dono de uma casa comercial. Acabo de sair da Loja do Cidadão, nos Restauradores, onde vou muitas vezes só para me servir da casa de banho.
As livrarias da baixa são lugares excelentes para folhear as novidades literárias. As pastelarias são locais muito concorridos mas a pasteleira é de qualidade. Na ourivesaria do meu velho amigo José Ceia Garção passo hora e meia a pôr a conversa em dia. Nesta sexta-feira há uma fila de mais de uma centena de pessoas para subirem o elevador de Santa Justa. Parece uma fila para entrar na ourivesaria, diz o meu amigo a brincar enquanto se queixa do negócio. Em sessenta minutos ouvi histórias que davam para um livro. Todas metem polícias, vendedoras de queijo fresco, gente de sangue azul que estaciona em cima dos passeios, putas finas, gatunos de fato e gravata.
Hoje não subi ao Chiado nem passei pelo Martin Moniz, não folheei revistas, não fui matar saudades à livraria Portugal nem tão pouco visitei a minha amiga Teresa e o seu marido Jaime que conheço há trinta anos e que resistem à frente de um negócio na Praça da Alegria.
Acabei de pagar 6 euros pelo estacionamento no parque da Praça da Figueira. Estou a caminho de Vila Franca de Xira. Percebo agora que a minha luta contra o tempo é inglória. De semana não dou pelo passar do tempo. Quando fujo uma tarde para Lisboa provo tudo apenas pela metade. Marquei o ponto em Vila Franca e saí a correr. Começo a escrever esta crónica no jornal, em Santarém, já a noite vai alta. Passei pelo centro da cidade e só vi fantasmas. Santarém fica a meia hora de Lisboa e parece uma cidade perdida no mundo. Sempre que a vejo assim deserta lembro-me de uma noite, há mais de uma dúzia de anos, em que saí de casa para assistir a um colóquio com Sophia de Mello Breyner Andresen que tinha apenas uma dúzia de assistentes.
Já estou no carro a caminho da Chamusca. Na TSF continua a novela do empréstimo que António Costa conseguiu aprovar na Assembleia Municipal de Lisboa. Acabei de falar ao tmv com Moita Flores que reconhece a cada dia que passa a falta de condições para continuar a trabalhar em Santarém tal é o buraco financeiro que os socialistas lhe deixaram.
Cheguei à Chamusca. Foi aqui que há quase meio século caminhei descalço para a escola e deitei-me muitas vezes com a barriga a dar horas. Mas é aqui que ainda hoje gosto de dormir de estômago vazio por causa do enjoo de conhecer tantos idiotas poderosos.

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