quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um dia fui à bruxa


Inspiro-me nas novelas da vida política portuguesa para fugir ao tema que enche as páginas dos jornais e os noticiários das televisões.


Há três décadas, naquela idade em que um homem é capaz de fazer trinta por uma linha, fui à bruxa levado por uma vizinha que gostava muito de mim. Eu tinha pouco mais de 20 anos e não sabia dizer que não a uma pessoa que me queria muito bem. E a minha curiosidade era daquelas que podia matar. Como não morri, nem sequer de susto, fiquei com uma boa história para contar. A bruxa pôs-se a adivinhar e eu, antes que a aventura terminasse, não me fiz rogado e comecei a fazer perguntas. Como a bruxa não conseguiu responder-me no presente com a mesma habilidade com que tinha previsto algumas situações no meu futuro, saí do seu consultório em passo de corrida e mais ou menos excomungado.


Tenho a memória cheia de lugares e de pessoas que encontrei nas minhas viagens. Lembro-me com muita frequência de uma visita ao Museu de Arte Moderna de Nápoles, em Itália, e de ver uma sala com as paredes nuas e cheia de vidros no chão. Perguntei a um guia que tipo de arte é que se encontrava naquela sala. A explicação foi rápida e concisa: o autor tinha atirado um vidro contra uma das paredes e o desenho que os vidros fizeram no chão ao caírem constituíam a obra de arte.


O meu avô paterno não sabia ler nem escrever mas era um mestre a contar histórias que ainda hoje recordo e procuro insistentemente nos alfarrabistas. Mas são as histórias da vida real que mais me marcaram e que me servem de alimento. Um dia contou-me que teve uma cabra às portas da morte durante sete dias. Ao sétimo dia lembrou-se de mandar rezar o quebranto ao animal e, de uma hora para a outra, a cabra já vendia saúde e começou a comer com o apetite de quem não se alimentava há um ano. Foi um milagre contava ele cada vez que eu o interrogava sobre o assunto e dizia não acreditar em bruxarias.


Queria fugir ao tema da política mas a coluna ainda aguenta mais palavras.
Os dirigentes nacionais do PS e do PSD vão à bruxa todos os dias e não se fazem rogados a pôr em prática os conselhos das feiticeiras.
É minha convicção que a maioria da nossa classe dirigente faz da política a arte de mandar vidros contra as paredes para desenharem no chão os seus verdadeiros predicados e as suas reais intenções.
Por último: dou um garrafão de cinco litros de azeite a quem souber rezar o quebranto e ainda acredite que é possível salvar das mãos destes políticos miseráveis o grande rebanho de cabras do qual a grande maioria de nós faz parte.

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