quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um grande mulherengo


Li “Viagens na Minha Terra” de Almeida Garret há muitos anos. Não foi um livro que me deixasse marcas significativas. E as que deixou foram devidas ao facto de as “Viagens” serem pelas minhas terras do Ribatejo. Não percebo quem acha que aquele livro deve ser de leitura obrigatória nas escolas. Não pela qualidade da escrita mas pelo género. É um livro para uma idade mais adulta, para alguém com o peito feito para a leitura. Dar um livro destes a um adolescente que não sente o apelo da leitura é correr o risco de o marcar negativamente para toda a vida.
Acho que este assunto merece uma crónica porque “Viagens na Minha Terra” é a grande homenagem a Santarém e ao Ribatejo. Almeida Garret não merece uma estátua em Santarém: merece todas as honras e uma estátua onde todos possam recordar o homem de letras, o poeta, o político e o amante.
É por causa desta última qualidade que tenho que reler “Viagens na Minha Terra”, depois de ter lido recentemente, de um fôlego, “Cartas de amor à Viscondessa da Luz”.
Que Almeida Garret viveu exilado três vezes, que sofreu as passas do Algarve por causa da sua alma guerreira é mais ou menos sabido. Agora que terá sido um dos mulherengos mais famosos do seu tempo é informação que me faltava para dar mais consistência à sua memória e ver com outros olhos os amores entre Carlos e Joaninha, os dois personagens principais de “Viagens na Minha Terra”.
Acabei de ler uma edição das Cartas, organizada recentemente, onde percebi pela primeira vez a voz original do autor dos diálogos entre Carlos e Joaninha. E aquele amor entre os dois personagens de “Viagens”, que na altura achei tão sensaborão, agora já sinto com outra alma e apetece-me ir verificar com outros olhos, embora as “Cartas de amor à Viscondessa da Luz” sejam verdadeiramente um espelho do autor de “Folhas Caídas”.
Fernando Pessoa escreveu que todas as cartas de amor são ridículas. Antes disse sobre as cartas de Almeida Garret à Viscondessa da Luz que “não eram prosa….eram fogo”.
Antes de reler “Viagens” vou reler “Folhas Caídas” e tentar perceber melhor os poemas dedicados a Rosa Montufar Barreiros, uma andaluz, de Cádis, filha de marqueses e mulher de oficial do exército, que fez Almeida Garret escrever as mais belas e ridículas cartas de amor. Um grande poeta que, antes de morrer, pediu para não se esquecerem de lhe meterem a mão nas entranhas para verem o que é que ele tinha lá dentro a roer-lhe.

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