quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Um mundo cor-de-rosa


Na noite das eleições autárquicas saí à rua. Tomei o rumo do norte do distrito de Santarém e acompanhei a noite eleitoral na Chamusca, Golegã, Tomar, Rio Maior e Alcanena. Como é facilmente explicável não estive na hora H em todos os locais onde as emoções se viveram à flor da pele. Assisti, no entanto, ao desenrolar dos acontecimentos de uma noite eleitoral cheia de surpresas. Registo a serenidade do reeleito presidente da câmara de Tomar. Vi em Ourém uma manifestação popular que me fez recordar aquela que há quatro anos comemorou a vitória de Moita Flores em Santarém. Pareceu-me que a de Ourém foi ainda maior e mais ruidosa. Estive por lá o tempo suficiente para perceber que havia no rosto daquela gente uma alegria de cravos vermelhos. Não imagino nem quero saber a que horas acabaram as filas de carros no centro da cidade; de onde é que veio tanta gente para formar uma multidão. E saí de Ourém muito antes da chegada de Paulo Fonseca à sede do partido.


As tomadas de posse dos autarcas são regra geral um bom momento para perceber como é que vai a saúde da democracia no poder local. Os rituais são aborrecidos. Nalguns casos a pompa e circunstância chega a roçar o ridículo.
Por opção não assisti às tomadas de posse. Escrevo baseado no registo dos jornalistas da redacção que acompanharam os acontecimentos. Em Rio Maior, apesar de Isaura Morais ter ganho a câmara com maioria absoluta, os discursos da oposição soaram alto. Quem não soubesse os resultados das eleições diria que quem ganhou foram os do PS coligados com os independentes. Ou vice-versa. A vencedora das eleições, Isaura Morais, a mulher que destronou o poder de Silvino Sequeira que durou 25 anos, parecia estar noutro mundo de tão nervosa e emocionada. Como foi a última a falar fez jus à sua vitória. Tendo em conta a humildade do seu discurso, comparado com o daqueles que perderam, só faltou que Isaura Morais tivesse pedido desculpa por ter ganho. Ainda por cima com maioria absoluta.
Em Ourém, enquanto o candidato derrotado do PSD abraçava o candidato vencedor do PS, a deputada social-democrata Carina Oliveira desabafava para quem estava ao seu lado e tomava boa nota da multidão que quase deitava abaixo o cine-teatro. “Isto custa como facas a espetarem-se nas costas. Mas a forma como esta gente se mobilizou é comovente. Custa sempre perder mas, às vezes, é preciso reconhecer que a democracia faz-se de derrotas e de vitórias.” Exemplar.


A Tatiana, o Filipe e a Soraia continuam no Centro de Acolhimento da Praia do Ribatejo longe do colo da mãe por causa da birra de uma senhora que é técnica da Segurança Social e presidente de uma associação que aparentemente protege crianças. Idália Moniz foi reconduzida como Secretária de Estado e o mundo para ela e para os seus filhos continua a ser um mundo cor-de-rosa.  

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