quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Uma questão de desamor ao povo


O filme deve ser visto para percebermos a evolução da nossa sociedade. Para percebermos, apesar das injustiças que ainda vivemos, o que nos separa, passados trinta e três anos, desse estado miserável de obscurantismo e pobreza em que vivíamos.Anda por aí um filme, Torre Bela (ver texto sobre o filme nesta edição), que os portugueses deviam ver obrigatoriamente. Os mais novos para perceberem o que foi a Revolução do 25 de Abril e os mais velhos para lavarem a memória. A primeira vez que vi estas imagens ia caindo para o lado de espanto.
Fico magoado sempre que oiço alguém clamar por Salazar e pedir o “ó tempo volta para trás”. Não é que não tenha respeito pela memória de alguns homens desse tempo. É porque tenho memória que não compreendo como é possível eleger Salazar como um dos nossos melhores.
Fui testemunha privilegiada da revolução do 25 de Abril. Antes já ouvia conspirar e, depois, pude assistir a algumas acções que marcaram aqueles tempos. Passados todos estes anos recordo de memória alguns homens e mulheres desse tempo e rio-me do ridículo de algumas situações que vivi e de muitas outras que apenas presenciei. O filme Torre Bela é um documento que fala por todos nós. É um filme que ressuscita a nossa história recente. É um documento filmado no Ribatejo que todos os ribatejanos deviam ter em casa para mostrarem aos filhos.
Se há coisas a que sou fiel é à memória que guardo dos meus avós que me ajudaram a criar e a educar. Enquanto a minha avó ganhava para a sopa ripando camisas, eu fazia recados, nos intervalos em que não brincava na rua, descalço, com a roda de uma bicicleta. Sempre por perto. Não que alguém tivesse medo que eu desaparecesse mas porque “o trabalho do menino é pouco mas quem não o sabe aproveitar é louco”.
Não sei quem é que me ensinou, aos dez anos, a perceber que o mundo era injusto para com os meus. Por isso já nessa altura eu entregava à minha avó o que ganhava dos recados que fazia. E perguntava-me como era possível a minha avó ser uma pessoa tão boa, honesta e trabalhadora e ser assim tão pobre apesar de trabalhar como uma escrava.
Salazar foi o político português mais injusto da nossa História. Tudo o que fizeram à herdade e ao Palácio do Duque de Lafões, que este filme retrata de uma forma comovente de tão real e dramática, é culpa de Salazar, da sua avareza e do seu desamor ao povo português.

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