quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Chapa 8

O Castelo de Almourol é o edifício número 8 do património das Forças Armadas Portuguesas. É assim que ele é conhecido e referido nos serviços e é assim, chapa 8, que o Castelo de Almourol tem sido valorizado e cuidado nestas últimas dezenas de anos.
Não se percebe como é que um monumento ímpar do património português está entregue às Forças Armadas. Percebe-se, aliás, se formos coniventes com os trapalhões/farsantes dos políticos que passam pelos governos do país como cão por vinha vindimada. Está justificado, pelo menos para mim, o estado de abandono do Castelo de Almourol que é, mesmo assim, pasme-se, um dos lugares mais visitados pelos turistas estrangeiros depois do Santuário de Fátima e do Convento de Cristo.
Imagine-se o que vão dizer de nós, para as suas conversas de café, os ingleses, os franceses, os alemães, que chegam à beira do Tejo e ficam a ver o Castelo de Almourol da beira do rio da mesma forma que olham um boi se por acaso a visita guiada à região do Ribatejo incluir uma ganadaria onde os bois pastam no meio da charneca ou da lezíria.
Bois sentados é como eu vejo às suas secretárias todos os responsáveis que permitem que um monumento como o Castelo de Almourol seja um monte de pedras no meio do rio à guarda dos excelentíssimos coronéis das Forças Armadas. Só quem não sabe como funcionam as Forças Armadas, como a instituição é velha e tem falta de meios, não percebe o ridículo que é ter à sua guarda um dos símbolos do património português.
Só existe uma razão para esta distracção dos doutos responsáveis pela preservação e valorização dos monumentos portugueses; ficaram todos senis, ou vão querer fazer do interior do país um jardim zoológico, com novas espécies, que somos todos nós que aqui vivemos e trabalhamos.
Não acabo sem deixar claro que soube recentemente que há um projecto de revitalização do Castelo de Almourol, e da pequena ilha, graças à iniciativa e à paciência e perseverança de instituições da região. Mas eu sou daqueles que só acredito quando puder ver. Desde que me conheço que nas minhas visitas à ilha o que mais me marcou foi sempre a constatação do número de pessoas que vão lá arrear a calça (diz-se cagar em português vernáculo).

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