quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O mundo está perigoso

Só há uma forma de viver mais ou menos tranquilo neste país que nos deu o berço; não abraçar cegamente a não ser os nossos filhos e as pessoas que amamos.
O mundo está perigoso em África, na Ásia e na América Latina. Mas na Europa, para além de perigoso, está infrequentável.
Conto uma história que me foi contada na primeira pessoa, e por quem a viveu, na véspera do tribunal ler a sentença desse processo monstruoso para a justiça portuguesa chamado Casa Pia.
Um homem de cerca de 60 anos, casado de fresco, com filhos quase quarentões, estava a cuidar do seu filho bebé quando um pequeno incidente originou uma ferida na região do ânus. Sozinho em casa, desesperado por ver sangue, recorreu ao hospital da sua terra. Com o bebé nos braços esperou cerca de meia hora frente a um médico de serviço nas urgências que falava ao telemóvel como se estivesse no seu consultório particular. Bebé na marquesa de rabo para o ar, perguntas e algumas observações maliciosas para o pai, que na altura ele não entendeu muito bem, e ordem para seguir para um hospital central.
De novo nas urgências algumas horas depois, o homem ficou a perceber, pela forma como o médico o tratou, e questionou, que era suspeito de ter abusado do filho. Não o avisaram, perguntaram-lhe como se não acreditassem que ele não sabia que era suspeito de ter violado o filho com alguns meses de idade. Não, respondeu o homem, e isto só pode ser um pesadelo, ia acrescentando, enquanto se sujeitava a análises e a perguntas e também foi falando do seu estado mental e contando como tudo tinha acontecido. Foi um azar que eu não consegui evitar. Estava a tratar dele na ausência da mãe que chega mais tarde do trabalho e o que aconteceu não pode parecer uma violação. Eu sou pai na idade de ser avô mas sinto-me no meu perfeito juízo, disse, talvez de outra forma mas com todas estas palavras.
De volta às urgências do hospital da sua terra, depois da humilhação no hospital central, o homem, que na altura já estava acompanhado pela mulher e por um contingente de familiares, viu-se confrontado com a obrigação de se separar do filho já que os médicos lhe anunciaram que o bebé ia ser entregue à comissão de protecção de menores.
Resistindo até onde lhe foi possível, o homem acabou por levar o filho para casa, não sem antes ter percebido, e sentido, no mais fundo do seu ser, que para a maioria dos médicos que falaram com ele e o interrogaram e cuidaram do filho durante o acto da urgência hospital, ele era suspeito de ser, não exactamente o pai da criança mas o monstro que há uns meses tinha infectado com sémen a vagina da sua jovem companheira.
O bebé está bem, a ferida sarou depressa sem que tenha sido necessário voltar ao hospital, mas o homem ainda vai ser ouvido pelo Ministério Público e os resultados da recolha da saliva e do sangue ainda não são conhecidos.

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