quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Galináceos

Um dia critiquei aqui, nesta coluna, uma determinada instituição da nossa terra e fui corrosivo com a equipa dessa instituição, sem ferir o seu líder, uma pessoa acima de qualquer suspeita quanto ao valor dos seus ideais de serviço público.
Desde essa altura que as pessoas que trabalham comigo pagam caro as minhas palavras. Como o “pessoal” com quem me meti é gente com Poder (mandam mais que o chefe que está cada vez mais ausente), só não nos torcem o pescoço porque nós não vivemos no galinheiro, como é o caso deles e delas.
Amiúde somos criticados por vivermos no melhor dos mundos. A razão principal é verem como a equipa de O MIRANTE tem profissionais que sabem facturar em publicidade o suficiente para garantirem a liberdade editorial deste projecto.
O que a maioria dos críticos não sabe é como todos nós somos arte e engenho para levarmos a água ao nosso moinho. E o que sacrificamos da nossa vida pessoal para compensarmos aqueles a quem prometemos e não queremos faltar; sejam os leitores que confiam no nosso trabalho jornalístico, sejam os anunciantes que confiam na veracidade das nossas tiragens e do número de leitores.
Não me canso de falar desta realidade por que é um espelho do país em que vivemos. O caso que opõe O MIRANTE à Vitória Seguros é outro exemplo de uma luta entre David e Golias. A forma como somos tratados em várias instituições, desde os ministérios a autarquias, é muitas vezes ao nível dos países do terceiro mundo. Só nos aguentamos nas pernas porque somos homens sem medo e acreditamos no valor do nosso trabalho.
Guardo uma entrevista publicada num jornal local espanhol ao treinador de futebol Jesualdo Ferreira. Diz o texto da caixa da entrevista por baixo de uma foto a seis colunas:
Jesualdo Ferreira é mais próximo do que parece. Durante a entrevista manteve uma especial cumplicidade com o fotógrafo, António Salas, com frases como "O que é que faço? Caminho na tua direcção? Aqui vai sair uma boa foto" ou, quando sugeriu posar junto a uma das balizas, "Será que não cai?". O redactor gráfico do SUR mostrou-lhe a instantânea que abre esta entrevista - precisamente aquela sobre a qual tinha mais dúvidas - e ficou encantado. E quando Salas se foi embora, prosseguindo o seu trabalho na Feira - a entrevista tinha apenas começado - despediu-se dele com um "Que sorte tens, já te vais embora...!"
Em que cidade de Portugal, e em que jornal português, Jesualdo Ferreira seria capaz de falar assim desta forma tão afectiva? Em Málaga é possível. A cidade tem quase milhão e meio de habitantes mas os jornais locais cumprem o seu papel sem terem que vender a alma ao diabo.
No galinheiro onde vivem, temporariamente, as pessoas a que me refiro no princípio desta crónica ainda se pensa como no tempo da pedra lascada. Eles acham que nós dobramos a coluna por não nos pagarem o que devem e darem o dito por não dito. Cambada de galináceos!

Sem comentários:

Enviar um comentário