segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O patife sem importância

Desejo a todos os meus amigos e leitores desta coluna um Feliz Ano Novo. Como sei que tenho amigos especiais aqui vai, escrita,  a mensagem de Ano Novo que escrevi propositadamente, e dedicadamente, para eles.

O patife é o camarada que nos elogia com palavras admiráveis e, nas nossas costas, chama-nos os nomes mais feios do dicionário. O patife regra geral acha-se o nosso melhor amigo mas logo que pode salta-nos para as costas e não nos larga a aba do casaco e lá vai disto que é amizade.
Patife é o gajo que dá para os dois lados, e gosta de jogar nos dois tabuleiros, mas quando se zanga com a vida chama maricas a toda a gente. O patife vai à nossa casa na véspera de Natal para nos dar um presunto e aproveita para espreitar em que lugar da casa se guarda o ouro. O patife é solitário mas também sabe conviver em grupo como os peixes na água. Todo o patife é mentiroso; só Deus sabe quantas vezes ele fala verdade a mentir. O patife não gosta de fazer má figura mas é figurão todos os dias. O patife é democrata, socialista quase sempre, mas na hora de mostrar o que vale até a mulher dele é castigada por pensar de forma diferente; e, no caso de ter filhos, ai deles que cresçam acima daquilo que o patife sonhou para o seu futuro.
O patife pode ser alto ou baixo, magro ou gordo, não há como reconhecer um patife pela altura do esqueleto ou o peso das banhas; verdadeiramente ele sente-se um anão quando inveja os outros e vê-se ao espelho como um gigante quando o dia lhe corre bem em matéria de privilégios. Apesar das misérias que vivem com ele, e dentro dele, o patife é o mais satisfeito dos homens consigo próprio. O patife nunca foi um aprendiz, já nasceu ensinado, por isso ele arrota sentenças sobre o seu trabalho, a sua família de patifes, o seu grupo de amigos patifes que, tal como ele, são todos patifes que se governam bem.
O patife diz que gosta de trabalhar e faz tudo o que está ao seu alcance para mostrar trabalho e, no entanto, à primeira oportunidade o patife descansa em cima do trabalho dos outros; copia os outros, assenta em cima da casa dos outros a sua própria e única casa que é a moradia da vergonha.
O patife nunca se zanga e raramente usa palavras ofensivas; ele é especialista em mandar recados; enviar mensagens de Natal, oferecer caixas de chocolates e garrafas de vinho, dobrar-se e babar-se cada vez que passa pela nossa frente e precisa de esconder o cheiro da sua boca.
É escusado pedir a um patife que se reconheça neste texto ou em qualquer outro que o retrate; ele morre de medo de olhar para si próprio e tem o maior cagaço de um dia ser reconhecido na sua rua como um patife sem importância.

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