quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ser Ribatejano

Esta coisa de sentir orgulho em ser ribatejano já não se usa. Para mim continua a ser um sentimento que vale a pena. É estranho, por vezes, associar o Ribatejo aos costumes e tradições de gente tão diversa e diferente como é o povo de Alverca ou de Ourém, de Coruche ou de Tomar, Rio Maior ou Chamusca. Mas é esta grandeza que eu entendo que deve ser motivo de orgulho e razão suficiente para não perdermos as referências.
Nos últimos anos, principalmente depois da revolução de Abril, as diferenças entre o Ribatejo interior e o outro, o mais rico e abastado, tem vindo a acentuar-se. No interior ainda há um povo agarrado às suas raízes, vigilante, colaborador e solidário, bairrista quanto baste para manter o clube de futebol, o grupo de teatro, o rancho folclórico, entre outras associações. Ao contrário, no Ribatejo mais próximo das vias rápidas, onde o território é mais habitado e o povo aparenta ter melhores condições de vida, parece que estamos todos acomodados à espera que a solução para os nossos problemas caia do céu.
Se o Instituto Politécnico de Santarém um dia tiver uma constipação, o que não é de todo improvável, alguém já pensou o que vai ser da cidade? Se o Instituto Politécnico de Tomar um dia viver uma verdadeira crise de alunos alguém já fez as contas ao rombo económico que leva a princesa das nossas cidades?
Quem é que ainda tem memória das fábricas da Chamusca, de Tomar e Azambuja; das cooperativas de Almeirim, Santarém e Cartaxo que davam emprego a meio mundo? Quem é que ainda se lembra do número de famílias que salvavam o ano cultivando uma dezena de hectares de terra? Quantas famílias não construíram as sua casas de raiz sem recorrerem ao crédito bancário usando apenas o dinheiro ganho na apanha de cogumelos, do tomate, da azeitona, do que ganhavam na altura da colheita dos pomares e da venda directa dos produtos que eles próprios cultivavam?
Se em termos de território nacional somos um país “pedricula” na região do Ribatejo só encontramos pedra na charneca e no leito do rio Tejo. No resto, que é a grande maioria do território, só encontramos terra da boa que produz o melhor milho, trigo, arroz, vinho e por aí fora que a lista é bem grande e variada.
Não vejo ninguém, a começar nos políticos do Governo e a acabar nos dirigentes das grandes associações e sindicatos, a mobilizarem-se para que possamos sair da falência em que estamos metidos. Nos governos locais cada um defende a sua dama e o grande objectivo é sobreviver. Nas associações, por mais que custe reconhecer, estão instalados de um lado os lobistas ricos que vivem à grande dos orçamentos milionários para a formação, e do outro os empedernidos sindicalistas que continuam a acreditar que um dia vamos derrubar a sociedade capitalista e, então sim, finalmente seremos todos filhos da mesma cepa e farinha do mesmo saco.

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