quarta-feira, 16 de março de 2011

Geniais e generais

Anda por aí um zumbido que pegou moda na caneta dos nossos melhores cronistas: nem Sócrates nem Passos Coelho têm estatuto de grandes líderes. É verdade. Parece verdade. Mas para pôr um pequeno país na ordem todos os líderes políticos têm que ser geniais (ou generais)? Apetece-me concluir que a crítica nos jornais se banalizou com algumas raras excepções que não me canso de citar como é o caso de Miguel Sousa Tavares e de Baptista-Bastos só para dar dois dos melhores exemplos.
Quem manda no Governo são os grandes grupos económicos; quem manda na nossa pobre economia e política de saúde e educação são os lobbys das grandes associações. Quem está à frente dos lugares de maior decisão dessas instituições são, na grande maioria dos casos, homens de direita, gente retrógrada, comprometidos com as ideias mais conservadoras, nostálgicos da velha ordem, que lutam contra tudo que cheira a direitos humanos, distribuição de riqueza, reforma do Estado e por aí fora.
Não vejo ninguém a esmiuçar as direcções das grandes associações patronais e sindicatos, e a apontar o dedo aos cérebros que, conjuntamente com os governantes, sustentam esta espécie de república dos corvos.
Conheço dezenas de empresas que precisam de trabalhadores e no entanto o país é notícia porque o desemprego já passou os onze por cento da população activa. Alguém percebe este circo? Quem é que não sabe que a grande maioria dos licenciados que aguardam uma oportunidade no mundo do trabalho não sabe escrever uma carta de apresentação para enviarem juntamente com um curriculum-vitae para se candidatarem a um emprego? E quem é que é capaz de denunciar o escândalo e mandar outra vez os jovens para as universidades nem que seja para se redimirem do tempo em que andaram por lá a passear os livros debaixo do braço?
Quem é que já ouviu falar de um senhor chamado Joaquim Rosa do Céu que é presidente de uma Região de Turismo? Quem é que sabe do que é que ele se esconde para não vir a público defender-se da suspeita (enfim, como lhe chamar?) de que se reformou a correr aos 57 anos para apanhar ainda mais à pressa um lugar de administrador de uma entidade pública que qualquer reformado ilustre gostaria de presidir sem ganhar um cêntimo? E o que é que faz esta gente que não seja gastar o orçamento público e passear comendo e bebendo à nossa conta?
Já lá vai o tempo em que os escritores, os jornalistas e os artistas em geral tinham a força que têm hoje os camionistas quando resolvem encostar os carros à beira da estrada. Só assim se explica que os encontremos sempre nos mesmos lugares, a baterem sempre nos mesmos ceguinhos, como os idiotas de que falava Aristóteles, que ficam em casa e se recusam a intervir nos assuntos e responsabilidades da sua pequena cidade.

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