quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os donos do CNEMA e a arte de gerir com o dinheiro do povo

Os donos do CNEMA são gente muito importante e respeitada junto da classe política portuguesa nomeadamente no seio dos governantes. Só assim se explica o segredo que deve estar por trás do perdão de dívida que custou ao país quase três milhões de euros e que foi notícia muito recentemente em O MIRANTE.
Os donos do CNEMA, que são ao mesmo tempo líderes da CAP, a maior e mais influente associação de agricultores, têm sobre os políticos um poder de influência que não está ao alcance de qualquer associação de caridade ou de solidariedade das milhares que existem em Portugal e que, nas ruas, nos mercados, nos postos de gasolina e onde há circulação de pessoas, estendem a mão para nos sacarem um euro de forma a ajudarmos os meninos vítimas de cancro ou de SIDA.
Cada vez que compramos um porta-chaves para ajudar as instituições que tomam conta de crianças abandonadas, ou compramos uma rifa para ajudar os bombeiros, ou contribuímos para o peditório em nome de alguém que precisa urgentemente de uma assistência médica no estrangeiro, estamos a contribuir para a edificação de uma sociedade mais solidária, para minorarmos o sofrimento daqueles que o Estado despreza como se vivêssemos os tempos da pobreza e da indignidade salazarenta.
Se um perdão de dívida de quase três milhões de euros a uma empresa, como é o caso do CNEMA, não é motivo de notícia nem de indignação por parte dos cidadãos organizados; se toda a gente aceitar como normal que os donos do CNEMA equilibrem as contas das suas empresas com o dinheiro público, bem merecemos que daqui para a frente, com a pobreza que se adivinha, nos obriguem a depositar em nome do Estado, como condição para continuarmos a sermos livres, os anéis de ouro dos nossos avós.
Não vejo razão para grandes admirações se, daqui a um tempo, algum do dinheiro que ainda temos no banco não possa ser requisitado pelo Governo para ajudarmos a pagar a má gestão do CNEMA e os prejuízos com a contratação de artistas para animarem a denominada Feira do Ribatejo.
De vez em quando entro numa igreja e sem olhar para o rosto de sofrimento dos santos pergunto-lhes dirigindo-me ao Deus que tudo abarca; vedes todas estas injustiças como verdadeiros Santos ou a vossa cara de sofrimento é para disfarçardes o medo que tendes dos visitantes que não entram para rezar mas para cobiçarem o outro e a prata dos altares? Quem vos esculpiu assim tão martirizados e sangrentos já estava a pensar na hipótese de um dia o ouro das igrejas poder ser necessário para que os empresários amigos dos governos possam pagar as dívidas dos CNEMAS que existem por este país fora ?
João Machado e Luís Mira são, de certo, os grandes obreiros desta negociata com o Governo. Eles merecem que os seus nomes não sejam esquecidos. Quem sabe um dia destes, num 10 de Junho, um qualquer Presidente da República se lembre deles para uma medalha por tudo o que têm feito pela agricultura portuguesa, pelos interesses dos agricultores e pelo CNEMA, esse santuário privado onde existe o maior espaço relvado da região do Ribatejo.

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