quarta-feira, 29 de junho de 2011

Livros para férias

Há meia dúzia de autores cujos livros compro por devoção à Obra. Tenho várias edições do mesmo livro só pelo prazer das novas capas ou das novas traduções ou da nova reunião da Obra. Raul de Carvalho, o autor de “Serenidade”, um poema único na literatura portuguesa, é um deles. Um dia destes encontrei uma edição baratíssima de “Mágico Novembro” e essa descoberta fez-me voltar a ler a sua poesia. Um dia, a mulher de Jorge de Sena, Mécia de Sena, disse-me numa conversa em família que o final de vida de Raul de Carvalho foi muito idêntico ao de um indigente. É um grande poeta literalmente fora das estantes das livrarias mas vale a pena procurá-lo nos alfarrabistas.
“Dias Comuns” é um diário de José Gomes Ferreira que vai no quinto volume. O diário só começou a ser publicado em 1990 mas percorre quase toda a sua vida. Este volume abarca o tempo de 1 de Junho a 22 de Setembro 1968. Está aqui tudo aquilo que um jovem que quer vencer na vida precisa de saber. Se não é jovem e acha que já sabe muito então também deve ler estes “Dias Comuns” escritos por um Homem e Escritor excepcional cuja generosidade nele não resultava “da naturalidade lógica de um laranjal dar laranja. Provinha apenas do seu receio de ser injusto”. Edição D. Quixote
“E se a morte dos valores te contende com os nervos toma um calmante”. “Escrever”, de Virgílio Ferreira, é um livro póstumo organizado por Hélder Godinho. Lê-se de uma penada e descobre-se o escritor mais polémico desta geração de grandes escritores que atravessaram o último meio século. Virgílio não se limitou a ser romancista. A sua “Conta Corrente” é dos diários mais polémicos escritos a seguir ao 25 de Abril. Este “Escrever” reúne textos que retratam imagens e situações sempre no limite. “Afirma com energia o disparate que quiseres e acabarás por encontrar quem acredite”. Edição Bertrand
Portugal era um país de poetas antes do 25 de Abril. Lembro-me de ver o “Correio do Ribatejo” e o “Vida Ribatejana” sempre com um canto de página dedicado aos poetas. A minha experiência na direcção deste jornal diz-me que os poetas acabaram ou então encheram-se de vergonha. Já não chegam versos pelo correio. É pena. Stephen King tem um livro que conta memórias de um ofício que é o melhor manual prático de escrita para qualquer romancista ou poeta em crise. Um curso de literatura em 250 páginas sem precisar de professor e podendo escolher as horas que melhor lhe convierem para aprender. Mas não julgue que vai ficar mestre no final da leitura. “Escrever ficção pode ser uma tarefa difícil e solitária; é como atravessar o atlântico numa banheira”. Edição Temas e Debates.
Se quiser sentir o efeito de um murro no estômago enquanto lê um livro tente encontrar nas livrarias um livrinho de Tahar Ben Jelloun “O Escrivão Público” que narra a violência da vida e a experiência da pobreza, numa sociedade dividida entre Ocidente e Oriente, entre tradição e modernidade. O autor nasceu em Fêz (Marrocos) mas vive em Paris há mais de quatro décadas.

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