quarta-feira, 17 de agosto de 2011

As mais diversas touradas


O jornal ideal não existe. Muito menos o jornal só com notícias bem escritas e felizes. Há, no entanto, limites que são muitas vezes ultrapassados pela falta de preparação dos jornalistas ou pelo simples desejo de darem voz à desgraça fazendo eco de interesses que não interessam a ninguém.
Nas localidades ribatejanas onde se realizam anualmente largadas de toiros é recorrente aparecerem notícias sobre o número de mortos e feridos durante as largadas. A ideia que fica é que quem passa essas informações acha que o prestígio da festa local aumenta quanto maior for o número de pessoas vítimas das cornadas dos toiros. E se esse número poder ser adulterado com a cumplicidade dos festeiros, e os jornais e as televisões aceitarem como verdadeiros, o que é normalmente o caso, temos o crime perfeito em nome da grandiosidade da festa e da suposta valorização do espectáculo que é ter todos os anos cada vez mais gente no meio da rua a ser literalmente massacrada nos cornos de um toiro.
Todos sabemos que, regra geral, as vítimas são indivíduos alcoolizados e pertencentes às camadas mais pobres da população. Uma boa parte dos infortunados são ainda pessoas apanhadas à traição em circunstâncias muitas vezes caricatas que julgavam só acontecerem aos outros e das quais têm conhecimento através da televisão ou dos jornais. Só uma pequeníssima minoria dos feridos ou mortos resulta do frente a frente com o toiro a ver quem leva a melhor.
Divulgar os números de feridos durante as largadas deveria ser um acto de responsabilidade e um assumir de culpas pela contribuição para a desgraça alheia dos mais infelizes e não um acto de prosápia dos organizadores das largadas e entradas de toiros.
Ratón é o nome de um toiro que nas largadas em Espanha já matou três pessoas. O dono do animal cobra nove mil euros pela sua contratação quando os valores normais se ficam nos mil euros. A última vítima foi um indivíduo de 30 anos, que os jornais garantem que estava em estado de embriaguez, oferecendo-se à morte de joelhos como os toiros normalmente se oferecem à ponta afiada da espada ao investirem para o capote.
É preciso reconhecer urgentemente que a festa dos toiros já conheceu melhores dias.
E que as organizações das largadas e das entradas de toiros, tal como recentemente reconheceu o presidente da Câmara de Benavente, não podem por em causa a vida de pessoas que querem divertir-se e depois são atraiçoadas. As autoridades devem ainda garantir a proibição de participação nestes espectáculos de pessoas embriagadas.

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