terça-feira, 4 de outubro de 2011

Somos todos cavaquistas


Nasci e vivo numa das regiões agrícolas mais ricas do país e provavelmente da Europa. Todos os dias passo pelo meio de pomares de laranjeiras carregados de laranjas que ninguém compra nem ao preço que pague o investimento nos adubos.
Todos os dias ao almoço vou ao restaurante e pago dois euros por um copo de sumo natural feito com laranjas que parecem que vieram da lixeira: amarelas; engelhadas; raquiticas, azedas e com um travo a podre que até arrepia. Que país é este de gente acomodada que se deixa vencer pelas organizações das grandes superfícies comerciais que vão comprar as laranjas aos países da América Latina e desprezam a produção portuguesa que já foi das mais cobiçadas da Europa noutros tempos?
Há uma multidão de políticos profissionais a conspirarem de quatro em quatro anos para ocuparem uma cadeira na Assembleia da República ou um dos milhares de lugares dourados que o Poder proporciona logo a seguir às vitórias eleitorais.
E se a política deixasse de ser esse desejo pornográfico de todos os políticos saltarem para cima da mesma vítima e começasse a ser o exercício da cidadania ao serviço das várias associações de interesses que incluem a defesa da nossa economia até à luta contra a defesa dos direitos dos animais?
O discurso do Presidente da República está quase sempre ao nível mais baixo da política à portuguesa; meias palavras, ameaças veladas; avisos à navegação, recados que quase sempre nos levam a dizer: “fala saco roto!”.
Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, deixou escapar a grande oportunidade da reforma da administração pública em Portugal. Se ele tivesse cumprido um dos maiores desígnios da sua governação de dez anos outro galo cantaria nos dias de hoje.
Toda a minha cultura democrática é de esquerda. Agora que estou na idade de fazer o percurso de todos os bons cidadãos sinto-me em contramão sem medo de enfrentar os perigos de uma manobra perigosa.
Enquanto o Presidente da República e os governos do meu país se deixarem gozar pelo ditadorzeco da Madeira vou torcer todos os dias para que a extrema esquerda renasça em Portugal e, à parte as bombas e as armas, faça alguma coisa de sério pelo país na defesa dos que não se sustentam na gamela do Poder.
Quem olha para a pobreza franciscana dos nossos políticos, patrões e sindicalistas, alguma vez vai dizer que somos descendentes dos homens das caravelas?

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