quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sacanas sem lei


Numa sociedade democrática, quase 40 anos depois do 25 de Abril, é incompreensível que os tribunais percam processos judiciais, como já aconteceu comigo e com um familiar; que os tribunais demorem anos infindos a resolver um caso; que a justiça não proteja os pobres e os desgraçados que morrem de vergonha de viver; e a partir de certas situações de injustiça nunca mais recuperam a sua dignidade.
Quando temos o azar de ficar nas mãos de uma companhia de seguros, de um banco, de um hospital, de um gabinete de advogados, de uma qualquer instituição de Poder, que ninguém reze por nós porque Deus não faz milagres nem é misericordioso; talvez um padre, o padre da nossa terra, seja a nossa única solução para pedir ajuda moral. Já nem os provedores das misericórdias são o que eram dantes, embora ainda existam alguns, verdadeiras figuras da solidariedade, a quem vale a pena recorrer em casos extremos.
Os casos que são notícia nos jornais e nas televisões retratam um Portugal de oportunistas e de sacanas sem lei. Nos Estados Unidos da América Bernard Madoff foi para a cadeia em poucos dias e condenado em poucos meses. E há outros casos exemplares nos países da Europa civilizada. Em Portugal os banqueiros e os chantagistas que todos os dias nos levam a mão ao bolso, roubam o país e cada um dos cidadãos nos seus negócios sem rede e sem a vigilância das autoridades.
Até há pouco tempo defendi que o negócio dos casinos era próprio de uma sociedade fascista. Está provado que um casino é um antro de enganos e ilusões. A probabilidade de alguém ganhar alguma coisa num casino é quase nula. É tão perigoso começar a frequentar as mesas e as máquinas de jogo de um casino como começar a consumir droga. Não sei se isto se pode provar mas é possível, com um estudo sobre o assunto, chegar à conclusão que os casinos são o negócio mais enganoso do mundo. Muito mais rentável que o negócio da banha da cobra nos tempos áureos da santa ignorância.
Era assim que pensava até ontem, terça-feira, 3 de Abril de 2012, por volta do meio-dia. Descobri que estava enganado depois de me ter “passado” durantes os últimos meses com a utilização de um cartão de crédito de um banco.
Com alguma vergonha, confesso, estive quase meia hora ao balcão do banco a tentar perceber os meandros do negócio quando nos servimos do VISA e no dia 20 de cada mês não temos na conta o dinheiro suficiente para satisfazer os valores dos montantes utilizados ao longo do mês. Fiquei estarrecido. Já palpitava que os juros fossem republicanos, cerca de 25%, mas não sabia nem imaginava como é que se faz a engenharia para os banqueiros irem ao bolso do cidadão desprevenido que, como eu, não percebe patavina do sistema nem quer perceber confiante nas grandes autoridades reguladoras.
Agora já penso que o Stanley Ho é um anjinho comparado com os banqueiros portugueses. Este negócio dos cartões é uma coisa do arco-da-velha. Como o país; onde a justiça, a rainha de todas as instituições democráticas, é uma velha senhora a cheirar a fumo.

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