quarta-feira, 11 de abril de 2007

A azáfama socialista

Tudo leva a crer que o ex-presidente da Câmara de Santarém vai conseguir sentar no banco dos réus alguns jornalistas de O MIRANTE entre os quais me incluo. Será uma honra para mim, devo confessar, uma vez que as queixas de Rui Barreiro sobre o nosso trabalho incluem quase tudo o que escrevemos sobre ele nos quatro anos de mandato como presidente da autarquia. Tanta vez o homem juntou os textos publicados no jornal que um dia conseguiu que o Ministério Público acompanhasse a queixa. E lá vamos nós para a frente de um Juiz explicar o que é que quisemos dizer do presidente da Câmara de Santarém sempre que lhe enxertámos um nariz de pinóquio, ou quando brincámos com os seus suspensórios. Nunca escrevemos sobre ele mais do que devíamos ter escrito na sua condição de presidente da câmara, socialista e homem público. E bem o podíamos ter feito já que, entre muitas outras razões, o homem é dotado de tantas fraquezas que até enjoa. É também por causa disso que não lhe queria estar na pele quando, um dia, Francisco Moita Flores, o escritor, resolver escrever sobre a anedota política que hoje lhe faz oposição.
Foi ao ler uma entrevista do poeta António Ramos Rosa, onde ele fala do tempo em que escreveu o célebre poema “O Funcionário Cansado” ( a noite trocou-me os sonhos e as mãos/ dispersou-me os amigos/ tenho o coração confundido e a rua é estreita…), que resolvi pegar na caneta e escrever esta crónica.
Às vezes chego à porta do jornal e, em dias grandes de muito sol, apetece-me voltar para trás e regressar à vida no campo, ou na cidade, e não continuar a desperdiçar o resto da puta da vida entre paredes a remar contra a maré. Mas a vida não teria sentido se meia dúzia de cretinos nos fizessem desistir de combater contra um monstro que é esta velha mania portuguesa de premiarmos os incompetentes e obrigarmos a emigrar os que se recusam a vender a alma ao diabo.
Soube, numa conversa entre amigos, que há uma grande azáfama entre socialistas instalados no poder de Lisboa, preocupados com o facto de Rui Barreiro ainda não ocupar um “tacho” à altura da sua última derrota eleitoral. E de repente fiquei outra vez renovado. Se há coisas porque vale a pena lutar é contra a maré. Mesmo que as ondas do mar sejam traiçoeiras.

Sem comentários:

Enviar um comentário