quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Ribeira de Santarém, Fátima e O MIRANTE


A crónica de Última Página é uma homenagem a um assinante do jornal desde a primeira hora. Já passou o seu tempo porque, entretanto, morreu e já não posso contar com as suas opiniões que eram sempre muito críticas.
Esta semana assisti ao pagamento da assinatura de um senhor de 80 anos, da Golegã, que faz questão de mandar pagar a assinatura na redacção. “Não vivo sem o jornal” diz pela sua boca o portador anual dos 15,50 euros. É por estas e por outras que estamos obrigados a não deixarmos cair o entusiasmo e a capacidade de nos mantermos na mó de cima. A verdade, no entanto, é que o sector atravessa a maior crise de sempre.
A gráfica onde O MIRANTE era impresso há quase 20 anos fechou portas. Tinha o destino traçado desde que saiu das instalações de Alcântara, em Lisboa, para a área empresarial de Loures.
Não há uma gráfica em Portugal para imprimir jornais que não pertença aos grandes grupos económicos detentores de jornais. A Mirandela era a única e pagou caro o investimento numa área onde o futuro é sinónimo de letra de fado.
Há meia dúzia de anos andei por Madrid e Salamanca a tentar parcerias com gráficas espanholas. Encontrei preços muito melhores que em Portugal. Não tivemos a coragem que era preciso para darmos o salto. Apesar da nossa dimensão ainda éramos, e somos, pequenos demais para voos tão altos.
Quem teve a ousadia de crescer como nós crescemos vai ter que saber adaptar-se aos novos tempos. É nas alturas de crise que se deve investir. É exactamente para isso que cá estamos. Mas se não há gráficas no mercado para imprimirmos os nossos jornais a preços competitivos vamos investir como quem está à beira do abismo e, antes de cair, decide atirar-se?
Por causa da crise esta semana deixamos de publicar a capa da edição do Médio Tejo. E a edição Vale do Tejo aparece reforçada com notícias das outras edições mantendo, no entanto, as capas diferenciadas.
Não serão as mudanças definitivas. Vamos remando conforme a força da maré.
Os habitantes da  Ribeira de Santarém têm as casas a cair para os quintais uns dos outros, quando não é para as estradas da aldeia, e ainda não perderam a esperança; têm o Tejo mesmo ali ao pé do degrau da porta e ninguém se lembra do rio como um investimento para combater a pobreza franciscana que por lá se instalou. Fátima é o altar do mundo, fica mesmo aqui ao lado, recebe cerca de seis milhões de visitantes por ano, uma grande parte estrangeiros, e ninguém tira proveito disso. Mas a fé move montanhas. O Castelo de Almourol é o edifício número 8 do património das Forças Armadas embora seja um dos monumentos mais visitados em Portugal por estrangeiros. A gente vê e testemunha e nem quer acreditar que as instituições portuguesas são tão retrógradas e miseráveis.
Os jornais que dão trabalho a homens e mulheres que fazem do jornalismo profissão são tão precisos para uma região como o adubo para as terras da lezíria onde se cultiva o trigo e o milho.
Enquanto o Tejo levar um fio de água não baixaremos os remos. Mas precisamos de avisar a malta para não pensarem que somos tolos.

Sem comentários:

Enviar um comentário