quarta-feira, 22 de maio de 2013

A mão de Deus

Há um forno comunitário para cozer pão na aldeia da Pereira; corre uma ribeira na charneca entre o Arripiado e Constância que nos leva a paraísos que só costumamos ver nos livros e nas revistas que falam de viagens a lugares inesquecíveis; no “Outeiro Alto”, que é uma quintinha mesmo junto ao Parque Ambiental de Santa Margarida, vive o “Vento”, um cavalo de respeito que se deixa montar por qualquer sopro de vida; em Constância, junto ao Tejo, o “Pezinhos no Rio” tem uma cozinha espectacular com a sopa de peixe e a sopa da pedra a vulgarizarem (no bom sentido, é claro) os chefes de cozinha dos restaurantes típicos de Almeirim; a Ponto Aventura é gerida por um senhor chamado Carlos Silvério que tem uma excelente vocação para a direcção e para a organização de desportos radicais; a praia fluvial da Aldeia do Mato não é para os lados da Nazaré; é mesmo aqui, ali onde se chega de moto ou de bicicleta para os mais desportistas; e na aldeia podem comprar-se amendoins e tremoços avulso em quantidades e a preços que já não se usam.
 Quem é que não sonha ser dono de um pedaço de terra para construir uma casa, um charco, e no meio do quintal uma vedação para criar ovelhas, cabras, pavões e galinhas? Ali, a dois passos do Parque Ambiental de Santa Margarida, em todos aqueles conjuntos de casas que dão nome a aldeias de que sempre ouvimos falar, vive- se verdadeiramente o espírito comunitário do século passado mas percebe-se que estamos no primeiro mundo, e que só a pobreza do chão, dos telhados das casas e das ervas dos caminhos, é verdadeiramente franciscana; o resto é território espiritual para qualquer pessoa explorar até se sentir dona do mundo.
A Nersant, com a organização do Challenger, proporciona uma das iniciativas mais brilhantes de serviço à região ribatejana e à sua beleza natural. Esta prova devia ser filmada todos os anos e mostrada no Centro Cultural de Belém, aos domingos, em ecrã gigante, aos meninos e às meninas que julgam que o Tejo nasce em Cascais e depois sobe até Vila Velha de Rodão; que galinhas, ovelhas e raposas são todas aquelas criaturas que as mães dizem para eles evitarem enquanto mudam do jardim do Príncipe Real para a Avenida da Liberdade, do Largo do Carmo para o Rossio ou da Praça do Comércio para o Parque Eduardo VII.
Não jogamos a partida de bilhar nem abri o computador. Neste último fim-de-semana não escrevi uma linha nem abri um livro. Mas não me livrei, no domingo à noite, de ver no cinema o recém estreado “Assalto à Casa Branca”, pura propaganda à política dos americanos que sempre acham que os europeus, alguns europeus, são estúpidos por aceitarem viver em aldeias encantadas como a Pereira, onde as armas nucleares são os excrementos dos animais que fazem crescer uma couve mais depressa que a mão abonada de Deus. JAE

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