quinta-feira, 2 de julho de 2015

Joaquim Veríssimo Serrão

Tenho uma admiração especial pelo Professor Joaquim Veríssimo Serrão. Já devo ter contado que me meti com ele numa altura em que prefaciou um livro de Maria Manuel Cid, mulher ilustre de quem guardo saudades e por quem também tinha verdadeira admiração. Era minha vizinha e cheguei a sentar-me com ela à camilha na sua casa. A minha embirração com o Professor derivava dos salamaleques que ele gostava de cultivar e que admitia à sua volta. Joaquim Veríssimo Serrão é doutro tempo e aquela forma respeitosa como aceitava convites para conferências e para prefaciar livros era a sua melhor forma de ser útil a quem o procurava. Atitude que só o valoriza, dá sinal da sua incomensurável paciência e bondade e, acima de tudo, devolve, ou devolvia, o Homem que está por detrás do grande autor da “História de Portugal”. Professor insigne e personagem incontornável da nossa História dos últimos anos sem lugar nas fotos ao lado dos políticos da nossa praça e dos seus interesses mesquinhos e pífios.
Como, entretanto, (passados quase 30 anos) fizemos amigos comuns, cheguei a participar em almoços em que um dos seus maiores amigos e admiradores lhe tentava vender a realidade actual da nossa democracia, com a mesma perseverança e atitude que ele depois respondia, recordando os nomes dos oportunistas e dos vira-casacas do regime, e insistia que Salazar não era assim tão mau como o pintavam.
Era uma opinião coerente, assumida entre amigos, que trago aqui porque estamos todos mais tolerantes, para não dizer desiludidos, com os vendilhões de todos os templos e de todos os tempos, e as ideologias estão cada vez mais esbatidas, e os chamados progressistas parecem os novos fascistas do nosso tempo. Fruto da discussão, a conversa acabava com Joaquim Veríssimo Serrão a dar a mão à palmatória, para contentamento desse nosso amigo, que tem por ele a maior admiração intelectual e gostava de o sentir mais ligado à terra.
Joaquim Veríssimo Serrão está numa residência para idosos há alguns anos, assim que teve um achaque que o deixou diminuído. Ainda corresponde aos afectos dos amigos e beija a mão das senhoras amigas que o visitam. Quando estamos com ele apetece apertá-lo contra o peito como fazemos com os nossos filhos ou fazíamos aos nossos avós quando tínhamos saudades. 
Uma vez ouvi o provocador do Mário Cezariny dizer que tinha muitos amigos a passarem-lhe a mão pelas costas mas depois das festas, com ou sem livros, todos o abandonavam à porta de casa e deixavam-no sozinho a enfrentar as noites que nunca mais tinham fim. A última vez que visitei o Professor Joaquim Veríssimo Serrão tive vontade de entrar na sua solidão e deixar lá um poema de Maria Manuel Cid. JAE

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